Aos 85 anos de idade, Ziraldo continua em plena e vigorosa atividade artística e estética como se estivesse em plena adolescência longeva. Numa linguagem alegre, divertida, leve, ridente, exata e sincera ele fala em entrevista, publicada na Folha de S. Paulo de 7 de novembro de 2017 – C1. Quando a gente lê as palavras dele a sensação é que ele está brincando com as palavras, gozando a vida e rindo da velhice. E ele faz isso trabalhando horas intensas, dias sem fim e madrugadas silenciosas sem cansar. Escreve livros – literatura infantil – desenha, faz charges, organiza exposições das suas obras artísticas desde os tempos do “Pasquim”, da revista “Bundas”, do livro “O Pipoqueiro da Esquina” de Carlos Drummond de Andrade, do Jornal do Brasil e todos os livros de sua autoria.
A leitura da entrevista é divertidíssima, igual à leitura dos livros dele e dos desenhos e das charges. A gente fica escutando o riso. Ziraldo continua cativando os leitores dos seus escritos e os olhadores dos seus desenhos. Ele me fez relembrar a admoestação gentil da raposa ao principezinho: “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” (Antoine de Saint-Exupéry). Eu gostaria muito de fazer uma pergunta sincera e sem maldade nenhuma: Ziraldo, você já imaginou e pensou nos milhões de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos que você cativou com sua arte? Se a admoestação da raposa ao principezinho continua verdadeira, você precisa continuar a cativar outros milhões de crianças…
E tem um fato alentador: os seus escritos e desenhos já se constituíram em verdadeiros clássicos – aquelas obras artísticas em que a estética e a verdade não tem data de vencimento. Do jeito que Ítalo Calvino percebeu e escreveu: “Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer”. A cada nova leitura das suas histórias e a cada novo olhar aos seus desenhos, o sentido é outro.
Na entrevista, Ziraldo debocha da velhice, embora inconformado com a tirania e impiedade do tempo que passa. Diz ele: “Eu fiquei velho tem uma semana”, quando comemorou os 85 anos de vida. Isso nos faz lembrar e pensar que cada ano a mais que vivemos é um ano a menos para viver. A matemática da “soma zero” é danada, impiedosa. “A velhice é uma coisa que te acontece de surpresa. Demorou 85 anos para chegar, fiquei irremediavelmente velho”. Porém, a genialidade do Ziraldo continua em nível cada vez mais elevado. “Continuo com o mesmo regime de trabalho [de quando era jovem]. Estou na prancheta até de madrugada, é vital para mim. Se eu parar, morro”. Isso é emblemático. São lições de vida de quem junta e mistura inteligência, sentimento, estética e experiência. Um compromisso e comprometimento com a vida. Aqui, o Ziraldo me faz lembrar o que disse o também genial arquiteto Oscar Niemeyer, quando comemorou 100 anos de vida: “Continuo construindo projetos arquitetônicos. Pena que um dia vou precisar parar para morrer”.
Frente à crise do Brasil de hoje, Ziraldo atesta uma consciência política lúcida, embevecida de princípios éticos e morais que servem de exemplo real e material para todos.
Assim, meu desejo profundo, sincero e íntimo é que o Ziraldo continue Ziraldo. Cativando e seduzindo crianças, adolescentes, jovens e adultos à paixão da leitura e à emoção da arte do desenho. Tem coisa mais bela e prazerosa na vida das pessoas do que sentir e vivenciar a emoção das histórias que o Ziraldo inventou e escreveu e a emoção da alegria das histórias das charges que ele desenhou? Ziraldo, continue Ziraldo.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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