No vídeo que circula nas redes sociais, Lula prenuncia como passará para a história e repete o sabido, um sabido que deve ser repetido, repetido: não foi quem enforcou que ficou na história como herói, mas o enforcado Tiradentes. Sérgio Moro, Edson Fachin e Madame Carmen sabem disso, fazem de conta que esquecem para poderem viver seu presente, mas seus descendentes – se houver – terão vergonha de seus sobrenomes. Saberão que no passado, alguns de seus ancestrais foram os algozes sem se importar com o futuro, recolhidos à mesquinhez do presente político e das forças político-econômicas de momento.
O pior é que nadam na merda dos resultados de suas reformas, ponte para o passado. A reforma trabalhista retirou direitos em nome do aumento dos empregos. Onde estão os empregos? Aconteceu o contrário. E assim se construiu novamente a miséria. Voltamos ao mapa da fome. Voltamos aos índices anteriores de mortalidade infantil. Nada sobrou.
Em nome da austeridade fiscal, um rombo sem tamanho no déficit público. O programa neoliberal, rejeitado nas urnas, mostrou que somente existe para destruir a riqueza de um povo, sua autoconfiança e seu futuro. E vem o estadista de Higienópolis dizendo: vendam tudo, vendam o que puderem. Para fazer o quê? O mesmo que ele fez no governo: vendeu, vendeu e terminou seu tempo com o pires na mão pedindo dinheiro ao FMI e sem reservas internacionais. Administrar, para tucanos de plumagem neoliberal, é vender… e quando não há mais o que vender – como no caso de São Paulo – administrar é ir levando com a barriga e recolhendo propinas como estão revelando as investigações policiais.
No campo político, o desespero: fizeram nascer monstros e não sabem como aplacá-los. Ao mesmo tempo não têm qualquer chance eleitoral. Inventam candidatos, fazem aparecer nomes como cometas que passam e sequer clareiam a cena política. Todos politicamente e eleitoralmente natimortos. Sabem que o povo os despreza. Baixaram a credibilidade em todas as instituições, a mais esmerdeada sendo o Judiciário em que ninguém acredita. Mas conseguiram também acabar com a credibilidade de todos nos correios: já não se tem confiança que uma carta postada chegue a seu destino, uma simples carta…
A segurança se tornou uma piada… com exército nas ruas do Rio de Janeiro, conspurcando assim também as Forças Armadas. Não podia ficar pedra sobre pedra, e então jogaram também com a credibilidade dos quarteis.
Xico Sá tem razão: “deu merda geral”.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Como sempre, mordaz e direto ao ponto. É isso mesmo. Semana que vem irei a um evento, que é mais uma feira de software livre, o FISL, em Porto Alegre, onde professores de todos os níveis vão discutir como fazer uma educação libertadora nesses tempos em que roubaram de nós até o adjetivo livre, um tempo em que a Escola sem Partido destrói o professor e esmaga os alunos num esforço para transformar a todos numa massa amorfa e sem poder algum. Estaremos falando de professores rurais e indígenas, da aculturação, dos esforços por levar a tecnologia às escolas públicas e como a propaganda dos descrentes (e dos maledicentes mal intencionados) difundiu como difícil e insuficiente o uso do Linux, que tornava – e ainda torna – viável o uso a longo prazo das máquinas, tantas vezes esquecidas em depósitos das escolas, e que pode tornar – ainda – o trabalho libertador numa possibilidade real de educação crítica, pela autonomia e pela humanização. Estarei lá, consciente de que esses esforços são quase como murro em ponta de faca – ou serão mesmo? – mas estarei lá. Talvez, justamente por concordar com tudo nesse seu post, Geraldi, estarei lá sabendo que deu merda geral, mas a gente, quem sabe, pode aprender a nadar nesse esgoto e achar um jeito de sobreviver. Imundos mas, felizmente, conscientemente revoltados.