Autocracia em vez de democracia. Eis o que temos hoje no Brasil. A cada dia que vem e que passa, aumenta cada vez mais a sensação nauseabunda por causa de que Bolsonaro sabe muito bem que ele é incapaz de ser presidente – presidir, governar e implantar programas para as melhorias de vida da sociedade brasileira. Pena que, ao mesmo tempo, vem a sensação de desalento de que ele não tem a consciência – bem no seu íntimo secreto – de que o Brasil de hoje está sem comando, sem programas de desenvolvimento nacional, sem direção e administração política, social, econômica, educacional, cultural, etc. etc. etc.
E a sensação insiste e persiste. O presidente Bolsonaro não deve ter conhecimento e consciência da crise de hegemonia na apresente conjuntura brasileira – sem direção e sem comando. A sensação é que temos um “autocrata” em vez de um “líder democrático”. A origem desta sensação está nas medidas que Bolsonaro vem impondo ao Brasil nos 70 dias na condição de presidente e nas provocações acintosas que vem dizendo e escrevendo.
A última medida autoritária a ser tomada – aviso prévio já foi dado – é para restringir liberdades civis de adversários políticos, rivais e críticos do seu governo. Está para nomear um General (mais um) para controlar as redes sociais. Se isso acontecer, é uma prova clara da negação da legitimidade das manifestações dos oponentes e dos críticos. É a negação – a morte – da democracia, embora já frágil.
Para compreender e entender melhor este teatro real, o cenário político vivo de hoje com seus atores, no palco e nos bastidores, é necessário distinguir “autocratas” de “líderes democráticos”. Os autocratas são políticos autoritários e impostores, que impõe regras e programas por própria conta, desconsiderando as instituições democráticas vigentes e, acima de tudo, tratam seus adversários políticos e rivais como criminosos, subversivos, comunistas. Portanto, como uma ameaça à nação, que precisam ser banidos por medidas da “paz armada”. Ao contrário, “líderes democráticos” são políticos que dialogam – sabem falar e sabem escutar – discutem, debatem, respeitam os rivais e as instituições, decidem coletivamente, etc.
Como Bolsonaro não é um “líder democrático” – contrário do “autocrata” que é – na condição de presidente, vem tomando medidas para impedir que seus opositores venham criticá-lo nas redes sociais da era digital – hoje ao alcance, à disposição e ao uso de todos, inclusive das massas populares mais pobres, desde as criancinhas até os idosos de 90 anos.
Assim, na condição de presidente, Bolsonaro não tendo o que fazer, deu de brincar, aderiu ao entretenimento da era digital: postar imagens, ler e escrever coisas malucas no Twitter, no Facebook, imagens, fakes news, enfim, no uso brincalhão e maldoso da maquinaria planetária. Ele decidiu por ele mesmo, enquanto presidente, que a função dele não é governar. Ele sabe que não tem temperamento nem discernimento – diálogo, debate, articulação política – para coordenar os programas de ministros, agendas do Congresso, para organizar e desenvolver programas de economia, de agricultura, de indústria, de educação, de saúde, enfim, para as melhorias de vida da sociedade brasileira.
Quanto a nós todos, precisamos aprender as lições da história. Ainda que doloridas. Não podemos esquecer em nenhum momento e em nenhum espaço que os grandes e verdadeiros guardiões das democracias são a autocrítica e a crítica dos rivais. A capacidade intelectual e a práxis ética dos partidos políticos e dos governos – em todas as escalas – de fazerem a autocrítica como ação transformadora e de aceitarem e considerarem a crítica dos rivais, para corrigir os próprios erros, são duas grandes condições de força que constroem e preservam a verdadeira democracia – a democracia viva de que o Brasil e o mundo tanto precisam.
A nossa democracia escrachada só se resolve com mais democracia participativa.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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