Um soneto de Gregório de Matos

Ai, Custódia! sonhei, não sei se o diga:

Sonhei, que entre meus braços vos gozava.

Oh se verdade fosse, o que sonhava!

Mas não permite Amor, que eu tal consiga.

 

O que anda no cuidado, e dá fadiga,

Entre sonhos Amor representava

No teatro da noite, que apartava

A alma dos sentidos, doce liga.

 

Acordei eu, e feito sentinela

De toda a cama, pus-me uma peçonha,

Vendo-me só sem vóz, e em tal mazela.

 

E disse, porque o caso me envergonha,

Trabalho tem, quem ama, e se desvela,

E muito mais quem dorme, e em falso sonha.

 

 

 

 

 

 

 

 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.