Um recesso receável

Congresso e Justiça entram em recesso, depois de uma semana de decisões judiciais que definiram um rito de impeachment não desejado pela oposição, que reagirá com manobras protelatórias de modo a tornar cada vez mais insuportável a indecisão política, ainda que os ventos do fim da Legislatura de 2015 e o fim dos trabalhos do STF apontem para a manutenção da Presidente em seu cargo.

Michel Temer, golpista e traidor, foi derrotado pela recondução de Picciani à liderança do PMDB. Cunha foi derrotado em suas manobras regimentais. O DEM já veio em seu socorro, com o projeto de resolução alterando o Regimento da Câmara para permitir candidaturas avulsas para compor comissões. Ora, este projeto de resolução contraria a interpretação dada pelo STF à constituição, e levará mais uma vez tudo à judicialização. Com isso o tempo corre, e o governo se torna provisório. Parece que os interesses partidários além dos interesses não confessáveis movem Aécios, Mendonças, Cunhas et caterva. Nenhuma preocupação com o país. Tudo pelo poder, nada mais do que o poder. O menino mimado nascido em Minas Gerais não se conforma: não lhe deram o presente que queria, e ele não está acostumado a não ganhar o que quer. Portanto, continuará lutando por um golpe, seja ele da forma que for. Note-se que seu amighinho Álvaro Dias pediu ao TCU investigação de Michel Temer pelas mesmas razões ‘criminosas’ com que querem sustentar juridicamente o impeachment. Logo, se Michel Temer assumir, também sofrerá impeachment. E teremos novas eleições, o que o Aécio quer. E agora que o processo se iniciou, as vozes discordantes dentro do PSDB desapareceram: Geraldo Alkmin está ocupado em reprimir estudantes secundaristas…

E enquanto o recesso corre, FHC, Aécio, Cunha, Mendonça et caterva se reúnem: eta recesso receável.

Enquanto isso, estamos mais leves, sem Levy. E a presidente, se permanecer no cargo, não vai recomeçar seu govenro com outra perspectiva que não seja a do ajuste fiscal pago pelas calsses populares? Continuará submissa aos nossos beneméritos banqueiros? Não vai recapitalizar a Petrobrás utilizando nosso Fundo Soberano, para alavancar a retomada do crescimento? Continuará com seu calote eleitoral, onde o discurso foi um, e o governo está sendo outro? Ou enfim ouvirá as críticas dos segmentos que a elegerão e governará em outro diapasão?  Livre de Levy, continuará babando para o Bradesco e o Itaú? A educação continuará nas mãos do arrogante Merdacante? Enfim, conseguirá ouvir a bancada de seu próprio partido, que ela sistematicamente ignora?   

 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.