Depois de vir a público a conversa de Michel Temer com um de seus patrocinadores da JBS, no porão e às escondidas – e grava às escondidas – todos tomaram pleno conhecimento do perigo que representa o ex-deputado Eduardo Cunha, preso em Curitiba.
Todos temem que abra a bica. Afinal, todos os bicudos são primos entre si.
Ora, Eduardo Cunha é movido a dinheiro, muito dinheiro. E a fonte donde jorra a dinheirama não pode secar! Eis uma boa razão para o Michel Temer não cair do governo, pois afinal todos temem que Eduardo Cunha queira abocanhar o prêmio da delação…
Assim, a JBS estava mantendo uma rendinha razoável para Eduardo Cunha, e ele estava contentinho… Mas eis que os irmãos Batista decidiram também ganhar o prêmio da delação – e no caso deles, um grande prêmio: nenhuma prisão, uma multa com valores suficientes de zeros para espantar a pobreza e a transferência para N.York sem que o BNDES se insurja contra… Já caiu a presidente do BNDES, como sabem! Por que será?
Mas estas vantagens dos irmãos Batista podem fazer secar a fonte de dinheiro de Eduardo Cunha. Isto é um perigo para muitos, mas muitos políticos! Esta é uma das delações indesejadas até pela força-tarefa da República de Curitiba! Afinal, a força não quer que todos os parceiros caiam. Só os inimigos da Pátria e um que outro boi de piranha: Eduardo Cunha e Aécio são os bois de piranha e bastam.
Pois nesta conjuntura perigosa, periclitante até, veio a absolvição da mulher de Cunha!!! E uma absolvição assinada por carrasco vingativo… Claro, Dallagnol e cia. fizeram o seu papel: recorreram. Alguém duvida que o Tribunal Regional de Recursos de Porto Alegre reformará a sentença do Altíssimo, do inquisidor-mor Sérgio Moro? Ninguém de bom senso acreditaria nisso.
Se o dinheiro terminar, se o dinheiro não fluir para as contas de Eduardo Cunha, que fazer com ele? Talvez aconteça que a fonte não seque. Michel Temer poderá permanecer no executivo e com a caneta na mão. E há muitos, muitos empresários. E na falta destes, há comissões da venda do patrimônio público brasileiro. O tucanato do metrô que o diga!
Mas em secando, como será? Algum acordo que leve à tornozeleira? À liberdade juridicamente consentida? E talvez até olhos cegos a permitirem uma partida para usufruir das contas no exterior. Afinal, ninguém é de ferro, e não só D. Cláudia deve gastar o amealhado: é bom ter o parceiro junto. E as providências, secada a fonte, serão juridicamente sentenciadas.
A segunda delação temida vem de Minas… O senador afastado de suas funções, mas senador para todos os efeitos das vantagens, dizem, está muito deprimido com a prisão da irmã!!! E dizem que a família está muito chateada, afinal ele entregou o primo Fred e tornou pública a posse de um aeroporto familiar. Além de ter passado, oficialmente, um bom recurso para o amigo proprietário do helicóptero, aquele, sabem, das terras capixabas e dos 450 kgs…
Ora, a depressão, esta doença tão atual, leva a gestos taciturnos, a pensamentos amargos. E é inescapável: deve estar se culpando… Todo deprimido se culpa por alguma coisa!!! E quando a coisa é grande, como a prisão da irmã amada, então a culpa se torna grande… E de depressão em depressão, a gestos tresloucados como fazer acordo de delação premiada! Que horror! A ninhada está em polvorosa, batem bicos, voam e transvoam… E o grande ancestral de bico longo e plumas vistosas já se armou com mangueiras, vestiu o uniforme de bombeiro e se esforça para salvar o ninho e a descendência! Tucanos são belos e têm asas presas, desculpem, pretas!!!
Ora, que agrado dar a Aécio Neves? Ele não faz o gênero Eduardo Cunha que se vende por dinheiro, muito dinheiro. Seu bom mocismo não lhe aconselha seguir este modelo. E aí o único presente que sobra será dar-lhe do que gosta, bastante, suficiente. Um agrado a contento.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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