Donde procede o discurso de defesa dos direitos humanos feito pela presidenta do TSE na diplomação de Jair Bolsonaro? Sua defesa dos direitos das minorias, sua defesa dos direitos fundamentais do homem, tudo isso tão ausente em seus votos “pela colegialidade”, tão longe de sua falta de determinações de investigação do que aconteceu nas eleições que presidiu, tudo isso faz perguntar de onde procede, afinal, este discurso.
Disse a ministra: “a garantia à estabilidade dos direitos essenciais é uma das funções mais relevantes e irrenunciáveis do Poder Judiciário”. Mas que poder judiciário? Onde ele estava quando se jogava na lama a honra do candidato oponente? Um ministro do tribunal que ela preside chegou a defender a liberdade às mentiras (chamadas com o nome pomposo de “fake news”) porque havia espaço nos comentários para desmentir… e que qualquer ação contra as mentiras, contra as calúnias, era impossível, nada se poderia fazer porque é livre a manifestação da opinião!!! A honra e o respeito à honra não faz parte dos direitos essenciais: é isto que deveremos deduzir juntando discurso e ação deste tribunal.
Agora, diplomando seu candidato ou no mínimo o candidato que saiu beneficiado pela ausência do Judiciário, pelo acovardamento do judiciário, não adianta fazer discursos. Aliás, se ela não sabe, eles nem o compreendem e nem o ouvem. Porque a questão, D. Rosa, qualquer que seja a argumentação que se lhes oferece, é respondida com a mesma frase: “mas estamos livres do PT”, lema que o judiciário brasileiro ajudou a construir com esmero.
Num judiciário em que provas técnicas não importam, que ausência de provas não derrubam convicções, de nada adianta pensar que agora, dadas as “garantias” que quer oferecer este poder, ficaremos todos tranquilos nos próximos anos, que os direitos serão respeitados! Diga isso ao bombado bolsomínio que bate no primeiro gay que encontra pela rua! Sua violência vai diminuir por que a D. Rosa diz disse que o Poder Judiciário estará atento?
Nada de seu discurso me convence, principalmente porque proferido pela mesma pessoa que arrazoa juridicamente a favor de uma causa, mas contra seu próprio arrazoado, vota pela “colegialidade”… ou que condena reconhecendo não haver provas do crime, mas a literatura lhe permite condenar!!!
Desculpe D. Rosa, foi longo seu discurso. Aparentemente apropriado, uma aula longa sobre direitos humanos, mas do meu ponto de vista sua procedência real não é a defesa dos direitos para todos, é o medo de que o apequenado STF venha a ser tão vilipendiado como serão as minorias deste país nos próximos anos.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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