Toga, de Adilson de Apiaim

Por onde se esconde a conveniência

Na mais alta aparência da toga

Um quadrante que abole a dormência

Do pesado sessenta e quatro de complacência

Germina o ovo trivial de uma nova serpente

O que afugenta mais um golpe cordial

Vindouro da mais alta corte afável

É carregada pela curva da displicência

Que susta quarenta por centro de real

Investigação assegura avalanche da sangria

Desconfiada pela Lava afortunada

Que se ajusta por um poder parcial

Por baixo da toga preta

É bem maior a sua escuridão

Que faz ranger a nossa Constituição

Sem nenhuma serventia

As leis não são acasos do destino

Regulamento do capital num poder habitual

Seres “honrados” do poder constitucional

Onde a população paga seus formidáveis salários

Pra lavrar leis otárias de um livro ficcional

São seres daquela toga preta

Zona moralmente abalada pelos preceitos

Entoando uma espetaculosa moral esdrúxula

Tratam sempre humildes como otários

Com seus duzentos milhões de sol a sol

Que depositam anopluro de seus salários.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.