Toffoli gostaria de ser Moro

Volto a Toffoli, ao advogado do passado, ao sabujo do momento. Indicado para o STF vindo de atuações à esquerda como advogado, elevado por Lula a advogado geral da União, ao chegar à Corte começa seu calvário de se mostrar digno para a classe que sempre teve nas mãos o Judiciário e a decretação da ‘justiça’ de sua classe!

Percurso difícil de percorrer para quem até então havia militado com proximidades com, digamos assim, ‘classes subalternas’. Em suas primeiras decisões surpreendentes, quando agiu como um acólito de Gilmar Mentes – como tenho ainda boa memória e não esqueço as relações entre o eleito e falso paladino da moralidade o cassado Demóstenes e a alegação de Gilmar de que haveria ‘gravações’ das conversas entre eles, preciso lembrar isso com um pequeno ‘erro’ de ortografia porque Mentes é um verbo e Mendes um sobrenome – todos acreditaram na história que circulou à boca pequena: Gilmar Mentes estaria com um processo contra o irmão de Toffoli e para garantir o irmão ele estava obedecendo ao seu colega. Nunca acreditei no boato. Sempre pensei que de fato era o discurso da servidão voluntária para angariar fundos ou moedas de aceitação na classe a que não pertencia!

E penso que a sequência dos fatos estão confirmando isso. Ao se tornar presidente do STF, pôs-se sob a proteção de um assessor general, fato inédito na Corte. Depois jogou para as calendas gregas a votação em plenário da inconstitucional prisão antes da sentença transitar em julgado. E no seu mandato de presidente não só foi fazer acordos com o Executivo, acabando de vez com a independência dos Poderes, mas passou a obedecer com humildade repugnante aos desígnios de seu chefe: o presidente Bolsonaro.

Assim, com medo de não ter sido o que hoje pensa que deveria ter sido, morre de inveja de Moro. Gostaria de ter sido também ele, no passado, um caçador da esquerda esquecendo que somente chegou onde está, graças aos ares de esquerda que usou como máscara.

Para garantir sua entrada na classe em que não nasceu, obedece.

E em obediência suspendeu todas as investigações que se originaram em informações do COAF, reduzindo a titica de galinha as funções da fiscalização. E assim salvou o filho do patrão de momento. Flávio Bolsonaro e todos os milicianos e todos os chefes do tráfico ficaram gratos.

E o indiciado – não pela justiça, mas pelo senso comum – Toffoli sai a defender que está garantindo a cidadania… Só rindo. Ele imita Moro que na falta de argumentos para defender o que fez como juiz-acusador usa de artifícios como a obtenção ilegal das informações ou de adulteração do conteúdo das mensagens.

Aliás, Moro nos considera tão estupidos quanto ele: houve um hacker que ilegalmente invadiu os celulares, depois alterou os conteúdos das mensagens e por fim – pasmem – os conteúdos, a se crer na argumentação, são legais, normais! Vai ser hacker burro assim no inferno para fazer adulterações para ‘apresentar resultados normais e legais’! O Moro quer passar atestado de burros para todos e seu seguidor invejoso, o Dias Toffoli agora faz o mesmo.

Toffoli está cada vez mais próximo de seu MITO!

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.