O capitão Bolsonaro, em discurso de vitória na campanha eleitoral para presidente, declarou ter sido eleito pelos brasileiros.
Nada mais equivocado!
É certo que o capitão foi eleito POR brasileiros, mas não pode dizer que foi eleito PELOS brasileiros. O capitão foi eleito pela maioria dos votos válidos, mas o montante conquistado está muito longe de permitir que busque se legitimar na ideia de que seu futuro mandato represente a vontade da maioria dos brasileiros. Vejamos os números:
– Total de eleitores aptos a votar: 147,3 milhões (100%)
– Total de votantes nesta eleição: 115,9 milhões (78,7%)
– Votos válidos: 104,8 milhões (71,1%)
– Votos em F. Haddad: 47 milhões (31,9%)
– Votos em J. Bolsonaro: 57,8 milhões (39,2%)
O presidente eleito tem a legitimidade garantida pelas leis em vigor, isto é inquestionável, pois obteve mais de 50% dos votos válidos. Mas o capitão Bolsonaro não deve ceder à tentação de se deixar levar (nem de tentar levar a outros) pela ilusão de ter sido eleito pelos brasileiros. Foi eleito por pouco mais de um terço dos eleitores aptos a votar.
Se quiser manter a legitimidade de Presidente de todos os brasileiros, deve sempre ter em conta que cerca de 60% dos brasileiros não depositou sua confiança na campanha do capitão candidato. Essa confiança ele terá que conquistar trabalhando para unir a população em torno dos trabalhos de seu mandato.
No mesmo discurso de posse em que se disse eleito pelos brasileiros, o capitão foi, entretanto, demarcando uma lista de exclusões, nomeando aqueles que, em sua ilusão recorrente, não preencheriam os requisitos para ser incluídos naquilo que ele chamou de brasileiros. Poucas coisas podem ser mais perigosas para o seu mandato e para a estabilidade do país do que isso.
Esse conjunto de coisas levantam algumas incertezas políticas importantes, que poderiam ser resumidas na resposta à seguinte pergunta: Capitão, no momento de sua posse o senhor pretende assumir como o presidente de todos ou como o inimigo de até 60% dos brasileiros?
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Boa pergunta, Helio! Do jeito como pregou a campanha do ódio e segue mantendo as perseguições a imprensa que não segue o seu Manual de comportamento, ele vai governar CONTRA uma parte dos brasileiros. Digo mais: não só contra quem não votou nele, mas os babacas q votaram nele sem compreender seu projeto de poder: os trabalhadores, desempregados, negros, gays, mulheres, periferia…esses farão companhia junto aos nordestinos, petistas e gays declarados, bem como aos participantes de movimentos sociais. Quem viver, verá!