SOMENTE ELE, MEIRELLES

Em economia política ninguém se mete. Quer dizer, ninguém deve se meter, somente o ministro Meirelles. Uma imagem ingênua de cientista político puro, limpo, com vasta experiência financeira bancária, sempre bem intencionado para o bem do Brasil. O Brasil em primeiro lugar, acima de todos e para todos. Assim, fala o ministro Meirelles. Exatamente como se fosse possível um Brasil sem todos. Às escondidas, permanece um Brasil para poucos às custas do sofrimento de muitos.

Por conta e força desta imagem, as tagarelices diárias, mentiras eivadas e fantasmagorizadas de verdades, são repetidas em linguagem e imagens de maneiras diferentes e mutantes na mídia até se tornarem verdades na opinião pública. É a velha e maldosa estratégia da ideologia dominante na história política: minta, minta e sempre alguma coisa restará! Ou: diga uma mentira muitas vezes e de maneiras diferentes até ela virar verdade. Estas maldades estão em pleno uso e vigor na conjuntura política do Brasil de hoje, como estratégias ideológicas do governo golpista de Temer.

Estrategicamente, frente aos 97% de rejeição ao Temer pelos brasileiros e diante da crise social, econômica e política orquestrada pelas forças do alto para o impeachment de Dilma e para o fim do PT, a dúvida e a confusão diante do bem e do mal são armas poderosas e vitais das classes dominantes. Escondidinho, está o interesse das classes dominantes em projetar e perpetuar essa confusão insensata perante a opinião pública. Nestas circunstâncias, prevalece e reina uma linguagem da ordem, do emprego, da necessidade da modernização das leis do trabalho, da educação e da ciência (com redução orçamentária elevada), do desenvolvimento geral, do aumento de impostos e dos índices de contribuições, da privatização das estatais e dos bens naturais – tudo para o bem e benefício de todos – como argumentos e necessidades de planejar, aprovar e implantar – em caráter de urgência – mudanças mediante medidas propostas pelo Executivo, aprovadas pelo Congresso e abençoadas pelo Supremo (do Planalto).

Assim, a reforma trabalhista – “sem tirar nenhum benefício dos trabalhadores”, na voz do ministro – já aprovada e implantada; a reforma da previdência, em tramitação; o plano de privatizações das estatais – Eletrobras, Petrobras (Pré-Sal), Banco do Brasil e Caixa Econômica e outros bens de todos, já em processo de aprovação e implantação; a liberação do aumento de preços dos combustíveis, do gás, da luz, já em vigor. Desta maneira, Meirelles mais uma vez confirma a sua perene (e eficaz) preocupação com a economia privada por conta da economia pública e do sacrifício das classes populares.

É muito oportuno, desde já, pensar nas dúvidas e na confusão de 2018, diante do cenário dos candidatos e dos políticos. É preciso imaginar o palco da conjuntura: protagonistas e atores (candidatos), partidos políticos, alianças e composições (forças ideológicas, os interesses explícitos e os escondidos), os planos e os programas anunciados, as estratégias das campanhas, etc. Neste espetáculo é preciso perceber e conhecer as forças por trás dos bastidores: empresas nacionais e estrangeiras articulando e patrocinando alianças e composições de partidos e candidatos.

Na condição de cidadãos e eleitores conscientes e participativos não podemos nos postar como telespectadores assistindo ao espetáculo no palco do circo. Precisamos estar na arena.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.