Secou a paciência: o impasse está posto pelas “minorias radicais”

Já ouvi muito este discurso das “minorias radicais”. Mas não são estas minorias o problema. O problema é outro e tem origem na burrice dos serventuários locais às forças externas que os puseram no governo.

Os golpistas foram com muita sede ao pote! A força externa, que elaborou e financiou o golpe, não lhes exigiu ações drásticas: queriam se adonar do pré-sal; queriam a água potável (Eletrobrás); queriam a Petrobrás e a BR Distribuidora; queriam as terras brasileiras sem limites; queriam os bancos ainda estatais (BB e Caixa Econômica Federal, o que sobrou da privataria tucana); queriam o sistema educacional brasileiro; queriam desregulamentação total nas relações capital/trabalho; queriam os juros pagos na boca do caixa, e para isso exigiam a reforma da previdência. Eles queriam muito, como sempre quiseram.

Mas eles não são imbecis. Sabem esperar. Planejam o mundo e o domínio do mundo a longo prazo. Vão comendo, comendo… como corvos: comem tudo, mas não comem numa só bicada, é de bicada em bicada que vão para frente. Ou com guerras, ou com golpes, ou com bloqueios econômicos, ou com o que aparecer, vão comendo tudo. São abutres e vivem do sangue do mundo, mas não são burros! Isso não são, por isso são pacientes.

Acontece que os agentes brasileiros que eles, aliados aos imbecis coxinhas, levaram ao poder, pelos regulamentos nacionais, somente tinham dois anos. E, imbecis e fracos de inteligência, resolveram fazer tudo açodadamente!!! Pedro Parente, um dos maiores criminosos contra a nação da história brasileira, foi logo entregando tudo de uma vez só. E dizendo: meu compromisso é com os acionistas, não tenho nenhum compromisso com o governo ou com o país. Esqueceu que a maioria das ações da Petrobrás ainda pertence ao Brasil agora desgovernado pelos golpistas! Um pormenor que ele não conseguiu resolver de imediato, vendendo logo as ações da Petrobrás… Mas fez de conta que resolveu e aplicou uma política suicida para o Brasil, mas ao gosto de seus patrões. É claro, ele é tucano, e tucano tem patrão no exterior, no que eles eufemisticamente chamam de “mercado”.

Os batedores de panela que queriam tanto a “economia de mercado” pensaram que seus líderes, Michel Temer, Rodrigo Maia, Eliseu Quadrilha, Moreira Angorá Franco, Henrique Meirelles e sua equipe “de ouro”, Sérgio Moro e o STF fariam a “ponte” para futuro como ponte a ser percorrida, passo a passo. Mas estes líderes curtos de inteligências e ansiosos por prestar serviços ao mundo de fora mandaram à merda os de dentro – coxinhas, FIESP, CNI et caterva. Foram bebendo tudo como cachorros, língua de fora e salivando. Destruíram os empregos, destruíram as empresas brasileiras em nome de um falso moralismo que nem eles praticam, nem o justiceiro mor, mora? E estão pondo tudo a perder.

Que fazer, então? Ora, há uma categoria que pode parar todo o país: as empresas de transporte e os caminhoneiros independentes (30% da frota). Produzem desabastecimento, param fábricas, escolas e hospitais. É uma categoria profissional fácil de aderir a um locaute e a pedir intervenção militar como pediram o impeachment de Dilma. Uma categoria central para qualquer golpe, e muito mais para um golpe dentro do golpe.

É justo reclamar da política do afobado Pedro Parente que elevou os preços de combustíveis e gás de cozinha a patamares inimagináveis no começo de 2016? É justo. Então por que não estancar esta política, mudar o rumo, demitir Pedro Parente??? Aí ficaria a força externa de sobreaviso, afinal Pedro Parente é o representante interno destas forças que nos sufocam. Mas estas forças não são burras como é Michel Temer, Pedro Parente e seus asseclas. Sabem esperar.

Com o impasse criado pelo açodamento dos golpistas de prestarem serviços à força externa que os levou ao governo e com a parte fascista da nação clamando por uma intervenção militar, nada melhor do que um locaute nos transportes. Apavora a classe média; a mídia golpista, aliada fiel da força externa, fica meio sem jeito, mas ratazana velha percebe que o momento é de criar o caos para ficar bem na fita com as forças internas que poderão vir. Se vierem, estarão bem. Se não vieram, também estarão bem…

Temer tem condições de levar este governo até dezembro? O locaute aposta que não. A classe média não sabe. A mídia presta serviço a um e outro senhor. Tudo posto na panela, que os coxinhas não batem mas cujos cabos todos sabem onde enfiaram, produz o caldo necessário para o endurecimento do regime, com governo civil ou militar, pouco importa.

E certamente neste acordão, mais sábios que todos, os que realmente mexem os pauzinhos (as forças externas) explicarão aos imbecis que nos governam – caindo ou não Temer, a equipe econômica continuará seguindo o rumo “certo” da merda, quer dizer, mercado – que tudo deve ser feito com jeito, ir pondo com vaselina e cuspe… FHC será chamado para orientar como se faz… para foder com uma nação!

E tudo continuará com dantes do quartel de Abrantes…

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.