Réquiem para a Floresta/Canção para Chico Mendes, Gervásio Teixeira e Dalva Lazaroni

Na introdução deste livro, René Capriles diz que “a um morto não pode se lhe exigir silêncio, ele brada das profundezas do insondável a sua mensagem cotidiana superando os limites do tempo e das gerações. Cabe aos artistas interpretar esse grito”.

Aqui dois artistas se unem para interpretar o grito suspenso pelo fuzil de duplo calibre que matou Chico Mendes que sonhou um mundo de unidade socialista e que disse “eu mesmo não verei. Mas tenho o prazer de ter sonhado”.

O poema de Dalva Lazaroni percorre a mata, segue os seringais, mostram que o assassino é aquele que derruba a mata, “ave de rapina”

Com uma serra na mão,

sem ideias de valor,

por trás da serra o motor,

destruidores da vida,

gozadores suicidas,

deixam o povo da floresta,

sem saída,

reciclando o horror.

Gervásio Teixeira, por seu turno, narra a agonia em trinta acrílicos em antidocumento da “imensa dor gestada em número de abortos”, nos mostrando o que se lê, num diálogo entre as duas artes!

Ao final do volume, como uma prenda, o leitor ainda encontra um bilhete assinado por Chico Mendes, dizendo de seu sonho e do prazer de ter sonhado o que não viveu, e provavelmente muitos outros Mendes morrerão sem que vê-lo: um mundo em que a ambição não seja o motor da vida.

Juntando artes plásticas e literatura poética, eis alguns exemplos do que lerá/verá o leitor deste livro:

1.Que bicho é esse!

Se diz misterioso,

se quer eternos?!

Desorganiza o ar,

faz da Natureza

o verdadeiro inferno!

 

2. Chico! Chico!

Onde se perdeu a luta?!

Foi na morte ou no conflito?

3. É tarde!

É chegada a hora!

Só resta agora

dar boa-noite para os anjos

e aguardar

o entardecer da aurora.

FOTO 3

Esta é uma obra para guardar junto ao coração, num tempo em que tantos outros Chicos perecerão em nome da mesma sanha assassina que quer a terra explorada não pela vida, mas pelo lucro cego que não tem horizontes de futuros, somente um presente fétido.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.