Não resisti e saí às ruas. Tinha que ver de perto a festa de vitória dos bolsonaristas. Tinha que ouvir as palavras de sua comemoração.
Levava, principalmente, a esperança de que os meus críticos estivessem certos e eu errado. Levava a esperança de ver uma grande festejo da democracia: ruas cheias de gente alegre com a vitória e cheias de fé em um futuro melhor.
A decepção veio quase imediatamente. Decepção porque minhas avaliações anteriores foram reforçadas.
As ruas estavam cheias, sim, mas não de uma festa democrática. As pessoas gritavam e soltavam fogos, mas suas palavras não soavam a um festejo promissor. As palavras, proferidas aos gritos, soavam ódio, ressentimento e discriminação. Os rostos sorriam. Mas sorriam sorrisos de vingança. “Morte aos petralhas!” e “Vamos colocar esses vagabundos pra correr do nosso (sic) país!” eram algumas das bombas verbais que ecoavam pelas praças.
As cenas que acompanhavam esses sorrisos e gritos, não eram mais alvissareiros: bandeiras do PT em chamas, bonecos de petistas pendurados em forcas, pessoas exibindo ostensivamente armas de fogo.
Não nos enganemos, estamos, sim, sob uma ameaça fascista!
Pouco mais de um terço dos eleitores brasileiros deram vitória a um aventureiro! Mas ainda temos tempo de impedir a tragédia. Dois terços do eleitorado brasileiro não assinou um cheque em branco em favor da barbárie. Dois terços do eleitorado brasileiro quer que o próximo governo atue dentro das regras e com absoluto respeito à Constituição, às diferenças e às opiniões diferentes.
Ainda somos maioria, aqueles que não apoiam o autoritarismo sob qualquer insígnia!
Somos maioria e podemos fazer barrar as tentativas do impor um jogo fora das regras democráticas e constitucionais. Somos uma frágil maioria, que só se fortalecerá e poderá defender a democracia, se nossas instituições republicanas, como o judiciário, o legislativo, os governos estaduais, etc., deixarem o conforto dos atos preguiçosos e lentos da burocracia, passando a atuar e fiscalizar com o rigor da lei.
Só poderemos defender a civilidade, se nossas autoridades republicanas saírem da proteção do manto da covardia, tomarem chá de coragem e passarem a cumprir os seus deveres.
28.10.2018
Hélio Solha é professor do Departamento de Multimeios do Instituto de Artes da Unicamp. Passará a integrar a equipe de escritores. Agradeço por ter aceitado participar deste blog e usar este veículo para fazer circularem seus textos.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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