REDUZIR SALÁRIOS PARA AUMENTAR CAPITAL

“O Brasil ainda não é um país capitalista”. Imaginem se fosse! Talvez, o autor genial e os apoiadores fieis e crentes deste enunciado tenham uma pitada de razão: o Brasil continua “colonialista escravocrata” – uma  colônia imensa e extensa de muitas e finitas riquezas naturais e civilizatórias, disponíveis aos interesses do grande capital mundial, globalizado colonialista.

A origem deste enunciado estridente tem um cenário imperialista lá nos Estados Unidos – o grande palco das encenações espetacularizadas para a grande plateia consumista mundial, onde as decisões ocorrem ocultas nos bastidores do grande teatro cósmico. Em matéria jornalística – Folha de S. Paulo, 3 de outubro de 2017, A20 – Silas Martí informa, com excepcional precisão e visibilidade, que grandes empresários investidores, advogados, consultores e banqueiros estiveram num encontro na Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, na última semana de setembro, e saíram decepcionados com  a Reforma Trabalhista, recém  articulada e imposta pelo Planalto sob as trapaças de Temer. Alguns participantes do encontro, falando alto e em bom tom, perguntaram: “Então quer dizer que ainda não vamos poder reduzir salários?” E outros: “E se perdermos dinheiro? Vamos também dividir os prejuízos?”. Já outros afirmaram: “Isso é a coisa mais anticapitalista que existe”. “O Brasil ainda não é um país capitalista”. Assim, concordaram todos os presentes, americanos e brasileiros.

Esta é a antiga, atual e permanente lógica da lei da mais valia do capitalismo: maiores lucros para os empresários capitalistas com menores salários dos trabalhadores. Estes, os trabalhadores, precisam comer o suficiente – e somente isso – para terem forças fisicobiológicas para trabalhar e produzir; viver e habitar em senzalas, hoje favelas e bairros das periferias sem infraestrutura mínima. Conforto e bem estar aos trabalhadores assalariados e suas famílias, para que? Assim, para nós, os indignados, fica mais uma prova de que o nosso governo está tomando as medidas políticas, sociais e administrativas sob pressão das forças capitalistas nacionais e estrangeiras. Enquanto isso, os trabalhadores devem ficar longe dos palácios e das casas grandes do Planalto.

Este fato me faz lembrar de uma lei da história do capitalismo, segundo a qual o sistema capitalista precisa superar e vencer as próprias crises com suas próprias forças. Precisa aceitar as críticas dos seus inimigos opositores, que querem o fim do capitalismo e, acima de tudo, articular e tecer a autocrítica com seus próprios intelectuais orgânicos. Não foi por outra razão, em outros tempos de crises do capitalismo, que setores do próprio capitalismo pensavam e admitiam a social-democracia – uma ideologia política segundo a qual o Estado deveria ser mais forte e presente na economia e promover a justiça social dentro do sistema capitalista, inclusive garantindo a organização dos trabalhadores, com sindicatos, leis trabalhistas para promover a distribuição de renda e outros direitos de vida digna  da condição humana. A lógica era a seguinte: o capitalismo em vez de ganhar mais por peça produzida e vendida passaria a vender mais peças (mercadorias) e ganhar menos por unidade. E mais: se o trabalhador ganhasse maiores salários ele mesmo poderia comprar as peças que  produzia: rádios, geladeiras, televisores, bicicletas, motos, carros, etc. Assim, todos ganhariam mais se os trabalhadores e funcionários públicos tivessem melhores salários. Isto é, maior poder de consumo.

Porém, veio o neoliberalismo com Estado mínimo, com a terceirização dos trabalhos e salários, sob a ditadura do consumo. O capital rentista determina as leis do consumo: o cartão de crédito. Instituiu o mito da felicidade: o consumo. 

Diante da crise do capitalismo neoliberal mundial globalizado, a pergunta final: já não estaria na hora e no momento histórico oportunos para reinventar a social-democracia autêntica e legítima para um novo mundo?

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.