A imposição das políticas estatais do atual governo ao povo é o suporte para garantir o governo autocrático populista. Uma ótima estratégia para manter a hegemonia consentida com mentiras populistas, anunciadas na linguagem grotesca, prova material e intelectual de ignorância escrachante. Assim, o capital é protegido contra todas as formas de oposição social – partidos políticos de esquerda, trabalhadores, servidores públicos, professores, estudantes, sindicatos, associações, MST, ONGs, etc. São estratégias adotadas de roupagem democrática para neutralizar as formas de estratégias de escrachar a oposição chamando de “nazista – fascista” é garantir o apoio popular temporâneo. Até quando? Não se sabe.
A sucessão de medidas governamentais – senão diárias, pelo menos semanais e mensais – é a prova material real do leilão dos “bens comuns” do Brasil, com o rigor da lei “quem dá menos, desde que..”? E não “quem dá mais”.
1. Fim das multas ambientais – é a grande festa do agronegócio. Está liberado o uso dos venenos e agrotóxicos agrícolas sem restrições e sem limites, com o uso da tecnologia mais moderna – tratores, pulverizadores, aviões, droners; e os venenos são “agrodefensivos”; está liberada aos latifundiários a invasão e posse de áreas de reservas indígenas, parques de reservas florestais públicas, privatização de parques e florestas urbanas…, privatização, em ritmo acelerado, da exploração do petróleo, das reservas minerais, da água, das madeiras… e a grande devastação e a total destruição ambiental – do Brasil e do Planeta Terra.
2. Pode matar “invasor” de latifúndio – um desdobramento da primeira medida – pode matar todos os ocupantes dos movimentos sem-terra que invadirem propriedades improdutivas, mesmo que estas propriedades na origem não tenham sido legais e não estejam em dia com as tarifas tributárias legais; se o dono da propriedade matar um ocupante “invasor” não vai preso e nem vai responder por crime de assassinato na justiça.
3. Retirada dos radares nas rodovias – a família Bolsonaro tem 44 multas de trânsito nos últimos tempos. Via de regra, quem abusa da velocidade são os donos de carros importados, caminhonetões, carrões de executivos, latifundiários, políticos, juízes, desembargadores, empresários e a numerosa classe média motorizada, enfim, os poderosos. É claro, estão incluídos no excesso de velocidade os traficantes, os beberrões, os ladrões, e todos pobres que têm carros velhos e enferrujados.
4. Reforma da Previdência – a nossa Previdência em si e por si não é deficitária, dizem os especialistas, os que tem acesso a todo o sistema de arrecadação e de gastos, que a Previdência é lucrativa. E os desvios e os privilégios de altas aposentadorias, de políticos, juízes, desembargadores e o uso do dinheiro da Previdência para outros fins é que tornam a nossa Previdência deficitária. Se os grandes devedores, ou seja, o capital, recolhessem a previdência e os grandes valores que devem, ela seria superavitária. A Previdência não é imposto. É contribuição para benefício futuro. Portanto, não pode ser usada para pagar dívidas inexistentes aos bancos com juros sem limites e sem fim.
5. Armamento liberado – todos podem andar armados, já que os criminosos, assaltantes, ladrões, traficantes… andam armados.
6. Fim do “Mais Médicos” – supressão dos contratos e a expulsão do Brasil dos médicos cubanos. É claro, os médicos cubanos ensinavam como não ficar doente e cuidavam a saúde dos pobres, enquanto os nossos médicos cuidam dos doentes, de preferência dos mais ricos e dos que tem planos de saúde. Os pobres, por que tratar as doenças dos pobres?
6. Fim da Lei Rouanet – gastar dinheiro com cultura popular, com arte, com música, com museus, etc. é desperdício de dinheiro, que pode fazer falta para o desenvolvimento de empresas… A lei do capitalismo continua a mesma, só que agora cada vez mais poderosa: garantir que poucos explorem muitos, muito.
7. Morte à educação e às universidades públicas – por conta da crise financeira – baixa arrecadação e juros astronômicos aos poderosos bancos – a educação paga a conta. É claro (e tá certo!) a educação pública das camadas sociais mais pobres – as escolas das periferias, favelas, zonas rurais, povos indígenas, quilombolas – não merece qualidade. É conveniente e prudente manter as massas populares pouco escolarizadas. Só alfabetizadas. Agora, foram incluídas, nesta medida sanitária- profilática-monetária, as universidades públicas. Razão: as universidades públicas são inventoras dos conhecimentos científicos da história, da formação da consciência crítica, portanto inimigas perigosas da ignorância reinante e poderosa que tomou conta do Planalto brasileiro. Por força e em nome desta ignorância foi feita a nova proclamação do Planalto: todo mal da educação brasileira se deve ao Paulo Freire.
Dezenas de nações do mundo inteiro estão usando as lições e os métodos pedagógicos de Paulo Freire, aplicados na educação geral nos seus países, com excelentes resultados e aqui, no Brasil, onde Paulo Freire nasceu, cresceu e ensinou as belas lições universais, ele é culpado pelas desgraças da nossa educação desqualificada.
Bem que podiam nos poupar desta!
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
É um pesadelo, coisas inacreditáveis acontecendo.