Os dísticos populares mais velhos e antigos da história dos seres humanos são a revelação e a evidência, a prova da sabedoria de quem não teve o acesso aos estudos da filosofia e da ciência – direitos reservados à elite.
Os dísticos populares são o conhecimento ao alcance do conhecimento comum – das massas populares. Este conhecimento se constituiu até hoje como arma das massas populares contra os espertalhões autointeligentes, que se perpetuam no poder – ditadura do comando político e do capital – às custas da apropriação criminosa dos bens comuns de todos.
A riqueza e a beleza da linguagem dos dísticos populares está na revelação da verdade em suas múltiplas formas estéticas e éticas na arte da combinação das palavras. Estas, as palavras, sempre prenhes de sentidos e ideologias.
A multiplicidade de formas, maneiras de inventar, de dizer, de produzir e de enunciar a multiplicidade de interpretações – falsas, parcial e totalmente verdadeiras – da vida material são imprescindivelmente contraditórias. Nunca há uma única e verdadeira-científica interpretação dos fatos, dos acontecimentos, das circunstâncias que constituem a materialidade da história real – mundo escrito e mundo não-escrito. Deparamo-nos incertos e inacabados diante da infinitude de interpretações sem limites.
Porém, sempre há uma interpretação mais consistente e profunda dos sentidos e dos significados dos fatos materiais.
Assim, utilizando uma linguagem variada livre na escala do senso comum, dizemos:
– “Quem não deve, não teme”, é um dístico verdadeiro. E se invertido na sua forma, continua verdadeiro. Assim:
– “Quem não teme, não deve”, tem o mesmo sentido e a mesma verdade dos fatos reais? E quando falamos de outras formas:
– “Quem teme, porque deve”.
– “Quem deve, teme”.
A verdade é confirmada de diversas formas de linguagem.
Agora, se examinarmos os fatos políticos de apavoramento nos últimos dias da família bolsonarista, na ótica destes dísticos, seremos embebedados por quais sensações? Porque tanto medo, tanto favor e temor diante das informações e revelações de contas sigilosas no Banco Central e na Receita? A revelação de contas sigilosas seria uma prova cabal de crimes dos apavorados? Seria uma prova pública, visível contra os que tem rabo preso? E obstruir impiedosamente a revelação destas contas já não seria uma prova mais que cabal de crimes?
E mais, se a política é a multiplicidade, a totalidade dos atos e das relações públicas em disputa pelo bem estar de todos, indistintamente e sem privilégios de poucos, porque manter em sigilo atos políticos? A visibilidade dos atos políticos não seria o grande e imprescindível valor ético, legal, jurídico da política?
A determinação do presidente do Supremo Tribunal, Toffoli, para que o Banco Central e a Receita passassem a ele todos os relatórios financeiros e todas as representações fiscais gerou medo e reações dos políticos envolvidos em processos criminais!
O procurador-geral do governo Bolsonaro, Aras, obedecendo ordens do imperador pai e dos herdeiros filhos, pediu que Toffoli revogasse a determinação – “demasiadamente interventiva”. O que é isso? Mas, Toffoli não obedeceu a ordem bolsonarista.
O fato é o seguinte: todos aqueles que movimentaram mais riquezas do que conseguem provar a origem legal de tanto dinheiro, bens e capital, estão se pelando, se borrando de medo frente a revelação dos dados sigilosos de suas contas bancárias.
Fica uma última pergunta: porque será que os corruptos e os criminosos organizados não querem – não permitem e destroem fatos e documentos! – mostrar às claras suas contas bancárias, sua amizade e suas relações com as forças milicianas?
Se não devem nada, não precisam temer.
Simples. Muito simples.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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