Quem elege o presidente?

Estamos em tempos espetaculares e tediosos de campanhas políticas eleitorais para presidente do Brasil. O grande consolo é que estas encenações acontecem apenas de 4 em 4 anos. As imagens de rostos maquiados e espetacularizados pela televisão, as falas proclamadas em tom de discursos verdadeiros e salvadores, exibidos na televisão, nos jornais e nas revistas, causam a impressão assustadora de que temos no Brasil várias fábricas e indústrias supermodernas de discursos políticos, projetados e fabricados estrategicamente para as campanhas eleitorais. É o velho, desgastado princípio positivista: dizer uma coisa na teoria para fazer o seu contrário na prática.

No lugar de planos, programas, projetos e ações de governo para o bem do Brasil e de todos os brasileiros, os candidatos, de maneiras diferentes e paradoxais, proclamam promessas de extremo e profundo valor humano material, social, educacional, cultural de interesse para o povo brasileiro – estrategicamente para as camadas sociais das classes mais pobres e mais numerosas – com o fim único e último de arrecadar os votos dos eleitores. Os candidatos de ideologias conservadoras de direita e mais emponderados, quando não fabricam os próprios discursos, por ignorância e incompetência intelectual argumentativa, compram discursos sob medida, encomendados aos intelectuais orgânicos da própria classe social e membros ou eleitores dos partidos de que fazem parte, ou ainda, correligionários dos partidos com os quais firmam sacrossantas e amorosas alianças.

Via de regra, de maneira muito descarada e camuflada reivindicam o privilégio e o direito à irresponsabilidade. Quando eleitos, podem e precisam dizer que não irão fazer o que prometeram, senão a verdade se torna inimiga deles. Por conta disso, não dizem o que pensam e não fazem o que dizem.

Assim, a política se converteu em mercadoria industrializada – artigos de consumo. Os presidentes, os governadores, os prefeitos, os senadores, os deputados e os vereadores são eleitos pela televisão, pelos jornais e pelos espetáculos musicais, por conta de quem é mais empoderado.

Nada melhor, porque verdadeiro, o escrito de Eduardo Galeano para dizer sobre o papel da televisão na formação do mundo que temos.

“A democracia é de um luxo do Norte. Ao Sul é permitido o espetáculo, que não é negado a ninguém. E ninguém se incomoda muito, afinal, que a política seja democrática, desde que a economia não o seja. Quando as cortinas se fecham no palco, uma vez que os votos foram depositados nas urnas, a realidade impõe a lei do mais forte, que é a lei do dinheiro. Assim determina a ordem natural das coisas. No Sul do mundo, ensina o sistema, a violência e a fome não pertencem à história, mas à natureza, e a justiça e a liberdade foram condenadas a odiar-se entre si” […] “A televisão mostra o que acontece? Em nossos países, a televisão mostra o que ela quer que aconteça; e nada acontece se a televisão não mostrar. A televisão, essa última luz que te salva da solidão e da noite, é a realidade. Porque a vida é um espetáculo: para os que se comportam bem, o sistema promete uma boa poltrona”. (Eduardo Galeano. O Livro dos Abraços. Porto Alegre: L&PM POCKET, 2018).

Nós, os eleitores e as eleitoras, precisamos assumir um compromisso coletivo de todos e com urgência: educar e formar políticos que dizem o que pensam e fazem o que dizem. E é claro, formar eleitores e eleitoras conscientes, que primeiro escolhem, depois votam. E não somente votam.

Tomem cuidado senhores candidatos e senhoras candidatas, porque nem todos os brasileiros e nem todas as brasileiras nos encantamos com os discursos de vocês.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.