QUANTO PRODUZEM OS CRIMINOSOS

Sim, quanto produzem os políticos envolvidos em processos de corrupção, desvio(roubo) de dinheiro público, suborno, propina…quando acusados de crimes em processos nos Tribunais da Justiça, Tribunais de Contas, na Polícia Federal, quando telenovelizados na mídia diuturnamente? Os capitalistas não podem se queixar dos políticos criminosos e nem dos criminosos políticos.

Os criminosos são altamente produtivos na sociedade capitalista de hoje. O criminoso e seus crimes vêm ganhando de longe dos demais assuntos na disputa pelo espaço e pelo tempo mais nobre da televisão, dos jornais, das rádios e das revistas. Não há nada assemelhado, que vende tanto e que dá mais “Ibope” nos noticiários, nos programas, nos documentários do que os criminosos e seus atos hediondos. Em especial quando flagrados na vida real, no ato do crime. O requinte das cenas dos crimes reais é tão espetacular que supera em emoção os melhores filmes já produzidos sobre o amor, a beleza, a vida, a arte, a guerra, etc.

É espantoso e fastidioso imaginar e pensar sobre a possibilidade de que parte da sociedade capitalista não esteja nada interessada em acabar, liquidar e erradicar de vez por todos os criminosos e os crimes. Bem pelo contrário, é assombroso e horrendo sentir que há setores da sociedade, justo aqueles que constituem diferentes categorias da divisão social do trabalho, interessados em manter e aumentar o número de criminosos e de seus crimes pelo seu alto poder de consumo de produtos necessários para a prática do crime. E principalmente os lucros no combate aos criminosos e aos crimes. Dizendo de outro modo, pelos lucros que advém dos criminosos e dos crimes.

Quantas armas o criminoso obriga produzir e com elas quanto lucro ele produz aos proprietários das indústrias de armas, pólvora, balas? Quantos empresários vivem e têm lucros com o comércio de armas? E o que dizer dos contrabandistas de armas? O criminoso é um excelente motivador e incentivador da ciência e da tecnologia. Por causa dele foram inventadas as mais sofisticadas e precisas máquinas eletroeletrônicas: as câmeras de vigilância e monitoramento, em veloz e assustadora expansão nos bancos, nas empresas, nas escolas (são a negação explícita da educação!), nas indústrias, nos postes das ruas, avenidas, praças, nos prédios e nas mansões, nos elevadores e nos hospitais, etc. Por causa deles (dos criminosos) foram inventadas as cercas elétricas e eletrônicas, que tanto e de forma fastidiosa ornamentam os muros de casas, mansões, prédios, escolas e pasmem, dos cemitérios. Os criminosos não deixam em paz e sossego nem os mortos. Os criminosos são os profissionais que mais geram empregos na sociedade neoliberal. Por causa dos criminosos são contratados milhões de juízes, advogados (de acusação e de defesa), policiais militares, civis, federais, estaduais, de trânsito, de vigias, investigadores, guardas, em todo o mundo, diretamente para saber quem são os criminosos, para prender os seus corpos e mantê-los aprisionados.

Estranhamente, quanto mais se combate os criminosos com violência, mais criminosos e crimes vêm nascendo. Neste momento, estou sendo possuído por uma sensação estranha e incômoda, a sensação de que os criminosos de hoje podem ser os revolucionários e os guerrilheiros de amanhã. A possibilidade de sobrevivência é sermos uns dentre eles.

E os prédios de quartéis, batalhões, presídios, prisões, cadeias, veículos, blindados, helicópteros, armas, munição, celulares, uniformes, escudos… quanto não ganham os que fabricam estes materiais e quanto não ganham os que vendem estas mercadorias?

Ah!, estava me esquecendo, e os políticos de hoje feitos ladrões, corruptos, sonegadores.. precisam de advogados (os mais competentes criminalistas), de policiais, de assessores, de juízes, etc. etc. etc.

Acho que já está passando da hora de jogar no lixo da história o princípio pedagógico que domina ideologicamente a nossa educação: “vigiar e punir”. É preciso adotar e implantar o princípio: “educação de qualidade para todos, educação de formação de sujeitos conscientes, auto-responsáveis, amorosos e democráticos…”. Quem sabe…

                                                  Cascavel, 10 de janeiro de 2018.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.