QUANDO AS MENTIRAS NÃO TEM MAIS PERNAS (NEM CURTAS)

Pode mentir? Pode levantar falso testemunho? Pode negar a verdade? Pode falsificar provas de crimes que foram ou que não foram praticados? Pode dizer que são mentirosos os fatos reais e verdadeiros? Pode matar com a língua? Com a boca? Pode estuprar com a língua? Quando as mentiras e as verdades são descobertas, pode continuar mentindo? Pode falsear, falsificar as verdades? Pode…?

No nosso mundo que vivemos, temos que responder, com amarga tristeza na alma e profunda dor no coração, sim! Pode mentir! Quem e quando pode mentir? Podem mentir os candidatos desonestos quando e toda vez que a mentira for eficiente e eficaz para garantir a eleição para presidente da nação, para senador, para governador…; pode mentir quando a mentira for necessária e poderosa para o presidente e seus apoiadores se manterem no poder; quando a mentira for arma poderosa e necessária dos poderosos liquidar os opositores e adversários políticos.

Enfim, as elites do capital e do poder político podem mentir; podem inundar o mundo com falsas propagandas para vender mais; podem espetacularizar tragédias humanas e naturais ao vivo para ganhar muito dinheiro; podem enriquecer mentindo, enganando, fantasmagorizando.

Pode levantar falso testemunho? Sim, pode! Pode inventar e declarar mentiras na delação para condenar e prender inocentes. Quer dizer, o delator deve dizer as mentiras impostas pelo juiz para impedir – mediante falsas e mentirosas testemunhas, mediante delação pré-inventadas – os líderes políticos das classes sociais baixas a serem candidatos quando com potencial de serem eleitos.

Assim, a mentira na delação vira prêmio para o mentiroso corrupto e perdão e liberdade para o criminoso político – corrupto poderoso. Na inexistência de provas de crimes dos adversários políticos, a mentira e a delação serão provas suficientes e mortais, legais para juízes condenarem as vítimas inocentes nos processos judiciais político-ideológicos.

Nestas situações históricas, é próprio, é uma estratégia dos presidentes e dos líderes políticos dizer uma coisa na teoria para fazer o contrário na prática, na vida real. É o grande e poderoso princípio da enganação, da trapaça. E não há juiz competente, capaz de punir e impedir  estas mentiras, estes crimes contra os princípios éticos. Pelo contrário, há juízes que incentivam e determinam a mentira na delação para poderem condenar os adversários políticos dos grupos ideológicos contrários. Assim, eles protegem os poderosos. É trágico! A mentira e a mediocridade se constituíram em estratégia poderosa para líderes políticos – nos processos das eleições e nos programas de governo. E mais, não basta só parecer ser medíocre. É preciso ser medíocre bobo para iludir, alienar as massas de incautos – submissos voluntários.

A tragédia é grande e tenebrosa: o mundo dos líderes e políticos está infestado pelo vírus tóxico da mentira. Infestado, também, pelos agrotóxicos mentirosamente chamados de defensivos agrícolas. Falsear e contestar a realidade, mentindo todos os dias dia todo virou estratégia de popularização dos políticos de extrema direita, aqui e no mundo todo.

Por este método político foi inventado o governo autocrático – a autocracia do ultraneoliberalismo.  Nos processos de popularização dos governos autocráticos os mentirosos se divertem, se deleitam e morrem de rir dos incautos e bobos que batem palmas para eles.

Os mentirosos se postam soberanamente diante das câmeras sorridentes , imperturbáveis, maquiados mentem em cenas reais ao vivo, cinicamente, desavergonhadamente. Até primeiros ministros e primeiras ministras dos países mais ricos e civilizados do planeta mentem feio. Alguns debocham da verdade.

Segundo o presidente Bolsonaro, os dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial – INPE “não conferem com a realidade”, porque são frutos da “psicose ambiental”. Isso que a metodologia do Instituto é reconhecida como científica pelos cientistas do mundo inteiro. Diversos cientistas vêm se dedicando na pesquisa rigorosa usando a tecnologia eletrônica mais exata que existe, por mais de trinta anos sem parar. Enquanto Bolsonaro, para justificar a liberação do desmatamento da Amazônia aos estrangeiros colonizadores, diz que os dados não são verdadeiros. Como se todos fôssemos uns caras-de-pau.

A verdade é que as questões de desmatamento e das mudanças climáticas são questões científicas e tecnológicas e não políticas de interesse de cartéis estrangeiros.  A verdade, e não a mentira, é que essa liberação do desmatamento da nossa Amazônia é criminosa, é extrativista colonialista. Só falta entregar o INPE às empresas privadas para liberar a mentira – os dados falsos.

Mentez, mentez, il en restera toujours quelque chose … (Voltaire). Ou, a mentira falada e escrita muitas vezes de maneiras diferentes acaba se transformando em verdade. Para os incautos, é claro.

Enquanto isso, “a verdade continua revolucionária” (Gramsci).

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.