E agora, José? O PSDB de Aécio protocolou o pedido de impugnação da chapa Dilma/Temer no TSE. Mesmo com as contas já aprovadas, Gilmar Mentes conseguiu que a tramitação do pedido tivesse seguimento. Agora a ministra Maria Thereza de Assis Moura, corregedora-geral da Justiça Eleitora, autorizou o início da produção de provas… Este período é longo, a fase de perícias começará em 15.05.16, provavelmente quando Dilma já estará afastada do cargo por 180 dias por decisão de maioria simples do Senado. E Temer estará na presidência da república.
Como já se sabe, o Farol Apagado de Alexandria, o estadista de Higienópolis, já está defendendo em seu partido, o PSDB, a participação plena no governo Temer, que se iniciará em maio… E aí, como fica?
O PSDB do A (serristas) estará no governo; o PSDB do B (aecistas) são os autores da ação, com assinatura do ínclito Carlos Sampaio e agora convencidos por Serra e por FHC, sorriem pela aproximação com Temer e participação global e irrestrita em seu governo; o PSDB do C (alkmistas) estão contra o impeachment pelas razões apresentadas na petição bicuda (Hélio Bicudo), reinol (Miguel Reale) e possessa (Janaína Paschoal, aquela das arcadas da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, essa mesma, a possuída a esperar exorcismo), já que “pedaladas fiscais” também foram praticadas pelos governadores e, a prevalecer este precedente jurídico, ninguém terminará seus mandatos!
Claro, Temer fez um pedido: a separação das suas contas da campanha em que foi eleito vice-presidente com recursos da campanha toda, inteirinha, sem duas contas distintas… Mas para o constitucionalista Temer, tudo é permitido. Mas, pasmem!, a ministra Maria Thereza de Assis Moura diz que a solicitação do atual ainda vice-presidente (depois teremos outro vice, o impoluto e impávido Eduardo Cunha, com quem a classe média brasileira está abraçada mesmo que tenha posto cartazes com Fora Cunha na mão de alguns manifestantes) somente será analisada no final das ações! Como? Gilmar Mentes, corra, socorra, dê um jeito! Peça vistas por uns três anos, não deixe mandar, que agora seu fã clube não quer mais que ande… O processo há de parar num pedido de vistas. Você já está acostumado a fazer isso, Mentes. Repita o gesto, seja generoso.
Se Gilmar Mentes não conseguir vistas do processo para pará-lo, como vai ficar? Um PSDB na justiça querendo o fim do mandato que nem iniciou; outro PSDB no governo, com ministros e tudo o mais; e outro PSDB querendo que o Senado julgue a questão do ponto de vista jurídico e de seus efeitos, e não do ponto de vista bolsonarístico: da tortura e perseguição pura e simples.
Se o Mentes não agir com a presteza de sempre – e neste caso a coisa está complicada, porque terá que optar por um dos três partidos, já que ele é um juiz partidário – até o encontro do Temer com o ex-ministro todo poderoso da ditadura, Delfim Neto (sempre apresentado pela imprensa como ‘economista’ e nada mais, apostando na falta de memória) ficará sem sentido. Afinal, a velha raposa está querendo ressuscitar defuntos e suas ideias (vocês já esqueceram que até a justiça reconheceu que Delfim Neto manipulou dados sobre a inflação para prejudicar os trabalhadores?). Com nomes como estes – Delfim Neto, José Serra, Henrique Meirelles, Armínio Fraga (um feliz servidor de Soros), Jair Bolsonaro (provável líder do governo na Câmara, ainda que ele merecesse suceder a Eduardo Cunha na presidência da Casa), Moreira Franco, ex-ministro de Lula – o futuro governo provisório de Temer deixará nos registros da história um retrocesso nunca visto, mas sempre desejado pela FIESP e federações de menor peso: a questão não é que nomes estarão em evidência, a questão é o que estará em execução.
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E agora todos os figurões estão defendendo o Brasil: não é golpe, não injuriem nossas instituições, não falem mal do Brasil no exterior, sejam brasileiros (no fundo da consciência, o impublicável: nunca fomos brasileiros, porque nosso país são os paraísos fiscais, e nosso herói é o dólar, e para os intelectualizados do time, a pátria deseja é a França e eles somente sorriem satisfeitos quando estão à beira do Sena)… Ou seja, sequer o famoso “jus sperniandi” já não é concedido pelos que se julgam vencedores e que serão envergonhados no tempo grande da história.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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