Na atual política brasileira tudo é previsível quando a decisão cai nas mãos do Congresso, seja na casa dos senadores, seja na casa dos deputados. São casas deles, não são “casas do povo” já que a opinião do povo não vale nada. Nem a rejeição a Temer na estratosfera abala as certezas das decisões, sabidas desde sempre e para sempre. Apenas ficarão nos registros da história, para vergonha dos senadores e deputados. E estes usarão de seu poder de legislar para acharem brechas na “reforma política” para se eternizarem nos cargos através de eleições manipuladas por uma obra cá, outra lá, e pelos meandros próprios por que passam os votos na ação dos cabos eleitorais e na inconsistência política da população.
Aécio Neves, conhecidíssimo como Aécim, aquele do pó branco (trata-se de talco) foi flagrado em telefonema pedindo 2 milhões. Foi filmada a entrega de parte da dinheirama ao indicado pelo respeitável senador, aquele que “a gente mata antes de delatar”. Um primo do senador!
Seguindo a Constituição, apesar das controvérsias entre os ministros do STF, seu afastamento do mandato somente pode ser feito pelo próprio Senado. Havia sido afastado primeiro por decisão monocrática de um ministro, depois pela maioria de uma turma do STF, por fim reintegrado pelo pleno do mesmo tribunal. A bola foi passada para os senadores.
Os senadores, por ampla maioria, recebeu a bola e chutou para dentro: Aécio fica aqui, e ninguém tasca. Os descontentes podem ir reclamar ao bispo de sua diocese! Se fosse um senador de outro partido, digamos do PT, todos também saberiam de antemão o resultado: a execração pública na mídia e a votação quase unânime pelo afastamento. Ninguém sabe se, agora, haverá algum pedido de cassação por falta de decoro parlamentar (e isso ainda existe?), em requerimento a ser arquivado pelo presidente da Comissão de Ética (e isso também existe?) do Senado.
O palhaço deste episódio macabro é o PSDB. Vota pelo não afastamento do Aécim, mas exigem em reunião do mesmo dia que ele renuncie ao cargo de presidente do partido, cargo de que está licenciado. E diz o senhor Tasso: “O senador Aécio tem plena consciência que vivemos uma crise, que o partido enfrenta uma crise. Vivemos um momento muito delicado, que exige uma decisão definitiva. Não podemos mais ter uma situação provisória, mesmo que só até dezembro, quando acontece a convenção nacional”. (Leia mais: https://oglobo.globo.com/brasil/apos-retomar-mandato-aecio-pede-tempo-para-decidir-se-deixa-presidencia-do-psdb-21964325#ixzz4vxGNzR8U
stest )
Pois é: o cara é bom para ficar no Senado, porque senadores não cometem crimes (a não ser senadores de certo partido). Mas não é bom para ficar na presidência do partido que negociou com seus comparsas de outros partidos a permanência de Aécim no Senado. As coisas são assim: lá pode, cá não pode.
Quanto ao Temer e seus dois escudeiros, todos já sabiam: a denúncia será arquivada, seguindo o parecer favorável ao arquivamento já aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça. Não pasmem: o relator é do mesmo partido de Aécim… cujo líder na Câmara, assim que apresentada a denúncia no STF, ofereceu todo apoio a Temer. Cômico: dentro do partido, o relator não obteve a maioria de seu partido!!!
Quer mais para saber que o PSDB acabou? Ah! Tem também a história do racha entre o criador e sua criatura: Alckmin e Doria. Mas isso já está tão manjado e deglutido e digerido e dada a descarga, que nem vale a pena trazer à baila.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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