A proposta que recebi era esta:
Você tem uma bolsa usada que não quer mais? Sim?
Então coloque dentro dela: sabonete, creme dental, absorvente, batom, pente, o que você puder doar e quando encontrar uma mulher carente na rua dê pra ela de presente.
Essa é a campanha Maria Bonita no Natal. Compartilhe para chegar a muitas mulheres.
Eu decidi aderir à proposta da Maria Bonita no Natal. Comecei a buscar bolsas e as coisas que poderia partilhar. Achei 3 bolsas boas, que guardei esperando a volta das modas. Duas delas de couro. Pensei comigo: é agora!!!
Fui à farmácia pegar os artigos de higiene pessoal que não tinha em casa: 3 escovas de dentes, pasta dental, absorvente higiênico, desodorante pequeno. E eu tinha sabonete, pacote de lencinho de papel, fio dental, pente ou escova de cabelo. Fui montando as 3 bolsas.
Aí decidi procurar as bijuterias que estavam guardadas, as que já usei muito, as que enjoei, ou que ganhei e acabei não usando porque não era muito meu estilo… Foi uma sessão de desapego.
Também esmaltes, batom, sombras, blush, creminhos e perfumes de embalagens, miniaturas que a gente ganha quando compra perfumes ou em alguns hotéis: tinha perfuminhos, creme anti-rugas, hidratante, protetor solar…
Fui montando as três bolsas. Peguei 3 correntinhas de prata que acompanharam diferentes bijus ou mesmo joias com pedras brasileiras e busquei 3 pingentes.
Das bijus mais novas fiz um saquinho de presente e também coloquei nas bolsas.
Nem todas tinham tudo porque era o que eu tinha, na verdade, pra mais!
Conclui com um cartão de Natal onde escrevi uma mensagem de Feliz Natal. E peguei uma nota de 10 reais e enfiei na bolsa.
Eu estava tão envolvida com as montagens, que esqueci de fotografar as três bolsas. Talvez não fosse pra isso. Era pra ser um gesto mais invisível.
Como estava na hora da minha fisioterapia, o Wanderley levou as bolsas a Praça onde ficam as moradoras de rua. Eu pedi para ele escolher mulheres de meia idade pra mais velhas. Queria que esse segmento fosse contemplado!
Diz ele que ficaram desconfiadas no início, mas quando viram o presente (Wanderley procurou uma sacola bonita pra colocar a bolsa como presente!), elas se emocionaram e perguntavam: “mas é pra mim mesmo?”
Estou sorrindo à toa, pra além das minhas dores na perna e nos dois braços. Fez muito bem pra mim, pra minha alma e agradeci a Deus por nos ter abençoado com uma chance de rezar na caligrafia do amor ao outro!
É isso! Obrigadíssima a Nice Luconi por ter partilhado comigo essa mensagem/convite do Natal Maria Bonita, e ter me proporcionado esses momentos de elevação do cotidiano pela relação com outras que não conheci, mas para quem destinei coisas que escolhi doar pra essas Marias Bonitas. Falamos pela linguagem do gesto.
Corinta Geraldi
Possui graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Santo Ângelo(1975), especialização em Aperfeiçoamento Em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul(1975), especialização em Aperfeiçoamento em Educação pelo Fundação de Integração Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado(1975), especialização em S D B Alfabetização pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras de São João Del Rei(1970), mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas(1980), doutorado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas(1993) e curso técnico-profissionalizante em Normal pela Escola Normal Nossa Senhora Auxiliadora(1971). Atualmente é Professora (Assistente/Doutor) da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino e Formação de Professores. Atuando principalmente nos seguintes temas:Ensino-pesquisa, Trabalho docente, Currículo em ação, Curso de Pedagogia.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Bonito isso de ver as pessoas que não têm o mínimo, e que são invisíveis, e invisibilizadas pelo capitalismo…é muito doloroso pensar nas narrativas dessas pessoas que estão às margens, muitas vezes significam uma vida de direitos negados, e essas mulheres tão violentadas sequer acreditam em gestos de afeto, quanto de afeto lhes fora negado? é muito bonito permitir-lhes um pouco de amor, nossa Corinta que envolvente. Te amo!
Observação: teremos mais dessa autora? teremos mais dessa voz sensível? Quero!
Agradeço muito suas palavras, Mara Emilia!
Não tenho facilidade pra escrever como vocês.
O Wanderley insiste que eu escreva sobre filmes que vejo, já que gosto muito, mas ainda não me encorajei!
Quem sabe como propósito para 2020???
Boas Festas, nestes tempos tão sombrios, os amigos e os afetos são fundamentais!
Você contou da Maria Bonita para todo mundo? Porque todo mundo precisa saber que essas delicadezas, que o exercício de de dar um pouco mais que o necessário, aquela parte da coisa que incita a auto estima ser um agente no processo de se reconhecer como um sujeito de direitos, isso é muito mais do que algumas mulheres “presenteadas”.
Você, Corinta, presenteou pra caceta: botou bijoux, perfume, creminhos, um dinheirinho, um papel bonito pruma bolsa bonita, a mulher de meia-idade. O necessário já estava garantido. Você deu mais. Elas podem, com esse gesto, ali na frente, no lugar que teu gestou lhes proporcionou, serem as próximas as Marias Bonitas elas mesmas.
Você é foda!
Wanderley tá certo. Escreva. E eu vou semear a iniciativa. Beijos pra você e para o Wanderley