Dia de Finados. Feriado. Bom perguntar por quem, hoje, dobram os sinos. Porque há os que se foram, finados. E há os que definham, finados vivos, por quem os sinos já podem dobrar. Se os que se foram são as almas, os que aqui estão são corpos vivos, individuais e coletivos. Se a dor se sofre individualmente, é no coletivo que ela se elabora, se articula, se gesta até dar nascimento em cada um na forma de dor.
E é da dor de ver morrer o futuro da educação e da saúde brasileiras que gostaria de falar neste Dia de Finados. No sistema de exploração do pré-sal, antes da lei José Serra em benefício das grandes petroleiras, havia destinação dos lucros de exploração no sistema de partilha: tratava-se de financiar a educação e a saúde brasileiras. Mas José Serra se interpôs com seu projeto de lei no Senado, virado lei a ser cumprida: nada de sistema de partilhas…
Pois não é que na semana que passou, a ANP veio a público, de boca cheia, para saudar e louvar os 6 bilhões obtidos nos leilões ocorridos dia 27.10.2017, data do falecimento do futura da educação e saúde!
São 6 bilhões que desaparecerão como desapareceram todos os bilhões obtidos nas privatizações tucanas. Alguém sabe onde foi parar o produto da venda dos bens nacionais? Alguém é capaz de citar uma grande obra feita durante os oito anos dos processos de privatização, os maiores deles comandados pelo então Ministro do Planejamento, José Serra?
No passado, surgiram Itaipu e a ponte Rio-Niterói. Aumentou a dívida pública, mas as obras estão aí até hoje; no passado mais recente, incluindo lucros obtidos com a Petrobrás, temos outros saldos: o aumento de 18 novas universidades federais e o Brasil saiu do mapa da fome, para o qual voltou neste ano!
Enfim, a boca cheia diz: 6 bilhões com a venda. Somente esquecem de dizer ao distinto público: o BNDES destinará mais do que isso para financiar as atividades das petroleiras explorarem nossos recursos (cada barril de petróleo vendido no leilão teve o irrisório preço R$ 1,00.
E a Medida Provisória 795, que está valendo e será aprovada pela Câmara e Senado brevemente, prevê redução de impostos para as petroleiras, equivalerá a uma doação às petroleiras que compraram nosso futuro na ordem de 30 bilhões, para outros 40 bilhões, em apenas 3 anos!!! E não contente com isso, o relator da Medida Provisória, Dep. Júlio Lopes (PP-RJ) estendeu o prazo de isenções e de regalias para as mesmas petroleiras: em lugar do prazo se encerrar em 2022, como previsto originalmente, a isenção valerá até 2040!!! Se em três anos, fiquemos com a previsão mais baixa, deixaria o governo de arrecadar 30 bilhões, quanto deixará de arrecadar até 2040 ???
Por isso os sinos dobram: não pelos finados no passado, mas pelo futuro que o tucanato que comanda a economia nacional está assassinando. E assassinando com experiência longa de destruição de futuros, desde que a bolada grande caia nas contas das pessoas indicadas, aquelas que “a gente mata antes de delatar”.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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