É inacreditável que sérios e bem postos comentaristas e analistas de resultados de pesquisa não saibam o que estão fazendo, que estão manipulando a opinião pública. Sabem muito bem. E fazem o que fazem por opção ou por mandato.
Imaginemos uma situação. Você leu o noticiário de vários jornais sobre o mesmo assunto. E eles repetiam, parafrasticamente, as mesmas informações. Aí vem um pesquisador e pergunta: você leu, nos jornais, notícias falsas nesta semana? Quem responderá que sim? Praticamente ninguém!!!
Na verdade, os jornais estavam realizando um experimento para verificarem a credibilidade dos leitores em suas matérias. A pesquisa concluiria que há praticamente total credibilidade ao que noticiam.
Mudemos o cenário. Estamos em período eleitoral, com propaganda política. Uma das candidaturas, como se sabe até por decisão da nada cega Justiça brasileira, que tem lado, espalhou inúmeras mentiras sobre seu oponente, pelo Facebook mas sobretudo por whatsapp.
Pois vai o grande instituto, o IBOPE, pesquisar. E pergunta aos eleitores: Você recebeu fake news, ou seja, mentiras, na semana que antecedeu as eleições de primeiro turno? Mais de 70% diz que não recebeu. Mas 18% dos entrevistados, partidários de uma e outra candidatura, disseram que receberam notícias mentirosas a propósito de seu candidato.
E a pesquisa segue: você se deixou influenciar pelas notícias recebidas para decidir seu voto? 26% responderam que sim…
Vai daí que os comentaristas globais tergiversam sobre os resultados da pesquisa: interpretando as respostas de ambos os lados que chegaram a 18%, dizem que ambas candidaturas usaram da mesma artimanha: espalhar mentiras sobre o outro!!!
E sobre o fato de somente 26% dizerem que se deixaram influenciar, sentenciam que as mensagens no Face e no whatsapp não tiveram influência no depósito de votos nas urnas, na mesma medida em que alega uma das candidaturas, de manipulação da vontade popular através da mentira. 26% não é significativo, segundo estes globais comentaristas…
Mas nenhum. Nenhum mesmo percebeu que a própria pesquisa manipulou para obter os dados: se alguém é perguntado se recebeu notícias falsas, mentiras em seu celular, mas acredita em tudo o que se diz a favor de seu candidato e contrário a seu oponente, ele responderá que recebeu notícias falsas, mentiras? Claro que não!
Mais: se perguntado se vota segundo as notícias que recebe, responderá que não! Qualquer um que conhece um pouquinho de condições de produção de discursos ou de análise de conversação sabe que há um princípio que conforma respostas: “salve sua cara!” Se você responder afirmativamente à pergunta, você estará dizendo que é um sujeito manipulável… Mas este grau de sofisticação de raciocínio de paus-mandados não pode ser esperado. Afinal, eles estão trabalhando para as Organizações Globo, uma entidade de pensamento único, fechado, e com candidato, mesmo quando este a critica publicamente [para ganhar mais alguns votos], mas fecha acordos nos gabinetes.
No BandNews, repetindo seu jornal, a comentarista disse uma frase que destrói toda a tergiversação dos analistas globais: obviamente o eleitor ao receber uma mensagem a favor de seu candidato, considerará esta verdade; contrária a seu oponente, também será verdade; mas se for o inverso, tudo será falsidade. Ora, isso explica o alto índice de pessoas que disseram que não receberam “fake News”, o novo nome para mentira e calúnia, durante este processo eleitoral. Somente o IBOPE e os comentaristas e analistas da Globo ‘não’ sabem!!!
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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