Paulo Preto é “imexível”

Obviamente o processo relativo às 10 denúncias contra Paulo Preto, o arrecadador de José Serra e Aloisio Nunes foi cair nas mãos de Gilmar Mendes. É que o algoritmo do STF dá sempre o mesmo resultado: se é processo que envolve o PSDB, o algoritmo busca a sigla e entrega o processo, de forma prevista, ao ministro do PSDB.

Não adianta o governo suíço, em seu combate à corrupção, enviar documentação sobre os 113 milhões de francos suíços depositados por lá em nome de Paulo Preto: ficará tudo na caixa preta de Gilmar Mendes.

Não adiantou inúmeros executivos das construtoras denunciarem, em acordo de delação premiada, o esquema de arrecadação dos próceres do PSDB. Tudo não vem ao caso, como certo juiz gosta de dizer.

E como a investigação envolve um sujeito que não tem foro privilegiado, antes mesmo de que seja apurado o envolvimento dos santificados líderes do PSDB – que falta nos faz um João Paulo II para canonizá-los em vida – o processo corre para Gilmar Mendes… é assim que funciona a justiça cega brasileira.

Hoje a própria Folha de S. Paulo faz reportagem sobre Paulo Preto e o esquema do PSDB. Até a FSP, um jornal comprometido com o partido desde que o partido existe. Mas jamais um delegado requereu a um solícito juiz, qualquer que seja, federal ou não, um pedido de busca e apreensão! Ou seja, o processo é viciado desde a investigação policial, tão ciosa quando se trata de Lula, em cujos processos aparecem como “provas cabais” até a consulta a um veterinário porque a cachorrinha do ex-presidente havida sido picada por cobra justamente no sítio de Atibaia. Prova mais do que irrefutável. Tecnicamente, uma prova e tanto!!! Equivale a uma escritura com registrada no CRI. Afinal, é assim que funciona a PF brasileira partidarizada.

Enquanto isso, no Rio de Janeiro, diz o interventor, realiza-se a experiência cujo sucesso já está garantido antes de qualquer ação. E tendo sucesso, se esparramará pelo país adentro. E as forças armadas brasileiras assumirão como tarefa própria a segurança que antes cabia à polícia.  Estariam preparando algo? Ou surgirá dos generais, elevados a salvadores da segurança pública, o candidato tão desejado pela direita? Bem que o FHC poderia perder pruridos e começar a buscar seu general.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.