POESIA
A palavra impossível
Deram-me o silêncio para eu guardar dentro de mim.
A vida que não se troca por palavras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
As vozes que só em mim são verdadeiras.
Deram-mo para eu guardar dentro de mim
A impossível palavra da verdade.
Deram-me o silêncio como uma palavra impossível,
Nua e clara como o fulgor duma lâmina invencível,
Para eu guardar dentro de mim,
Para eu ignorar dentro de mim a única palavra sem disfarce –
A palavra que nunca se profere.
(Adolfo Casais Monteiro. Portugal. Rosa do mundo. 2001 poemas para o futuro. Lisboa : Assírio & Alvim)
PARA NÃO ESQUECER
Notícias
Da Argentina.
Às cinco da tarde, purificação pelo fogo. No pátio do quartel do Regimento Catorze, em Córdoba, o comando do Terceiro Exército “procede a incinerar esta documentação perniciosa, em defesa de nosso mais tradicional acervo espiritual, sintetizado em Deus, Pátria e Lar”.
Jogam-se os livros nas fogueiras. De longe, se avistam as chamas altas.
(Eduardo Galeano. Dias e noites de amor e de guerra. p. 200)
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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