Passagens
o blog do Wanderley GeraldiEpigráfico, de Adélia Prado
A anelante argila põe brincos de diamante porque ama a Beleza e nisto é tenaz, na fé de sobreviver à morte, a que não existe. Pois vêm da vida os mortos falar a alma o que só ela escuta. Contra o que se sente toda filosofia é mesmo vã, o livro é sagrado quando o...
O diabo coxo, de Luis Vélez de Guevara
É divertido ler hoje um livro de 1641. Perdem-se as referências mais ou menos diretas às personagens históricas das críticas irônicas e mordazes. Perdendo o particular, ganha-se na compreensão do que permanece como fundamento constitutivo das relações sociais nesta...
Assembleia geral dos animais
Estavam todos cansados com os desmandos do chefe dos animais daquele grande potreiro da Fazenda antigamente chamada de Modelo por um poeta e cantor; hoje o nome mudou, é Fazenda da Fazenda Maior. Nada mais. Ainda assim continua grande, com campos, brejos e florestas....
Dois poemas de Mensagem, de Fernando Pessoa
Os campos O DAS QUINAS Vendem os Deuses o que dão. A gloria compra-se a desgraça. Ai dos felizes, porque são Só o que passa! Baste a quem basta o que lhe basta O bastante de lhe bastar! A vida é breve, a alma é vasta: Ter é tardar. Foi com desgraça e com...
O tronco, de Bernardo Elis
Este é um romance regional, cujo ambiente é o sertão goiano, o norte de Goiás (grande parte do território em que se dão os fatos da narrativa está hoje localizada no estado de Tocantins). Os tempos são aqueles do coronelismo em que cada chefe de clã, com suas vastas...
As muitas cores da humanidade
Tenho somente uma sobrinha-tataraneta, uma menina sapeca que gosta muito de “cocó”, e tem sua cocó preferida que não pode sequer ser lavada, pois quando a lavam, ela a esfrega no chão para que volte a ter o mesmo cheiro... Pois minha sobrinha-tataraneta é fruto da...
Conclusão de Canção do Exílio Aqui, de Moacir Félix
LV Exilado na indecisão em que coexistem o carro e o sinal e o pedestre e a minha própria existência (da qual não posso sair como o caroço não sai da fruta que ainda não foi destroçada ou como a gema não sai do ovo que em forma ovoide perdura). LVI Exilado a raspar...
Por amor às cidades, de Jacques Le Goff
Da série livros para ler e ver I Este livro resulta de uma longa conversação entre Le Goff e Jean Lebrun, que introduz na forma de perguntas ou curtos comentários os temas sobre as cidades da Idade Média e aquelas do mundo contemporâneo. A tese defendida pelo...
O coração bate forte, ainda que a caminhada tenha parado
- Não, não sou um Palomar a medir uma onda, nem mesmo um Palomar indeciso que, caminhando na praia, se vê surpreendido por uma necessária decisão diante de uma banhista com os seios amostra: deve olhar (um gesto de elogio à beleza?), deve ignorar (um gesto de...
A “nova civilidade” retorna acelerada, tá OK?
O cotidiano, como todos sabemos, reflete, na sua singularidade, o que há de comum nas percepções e representações de mundo, mas também refrata e no seu caldeirão ao reproduzir também produz os primeiros elementos do novo que ainda não chegou, ou que vem vindo mas que...
A ESPETACULARIZAÇÃO AO VIVO DO CERIMONIAL DA POSSE
Pronto. “O capitão chegou”! Era grito em delírio na voz de quem mesmo? Ah! A voz do público na planície em frente do Palácio do Planalto. Jair Messias Bolsonaro é o novo Presidente do Brasil. Até ontem, antes da cerimônia de posse, a imprensa falava: “o presidente...
Nós, homens de negócios
Ensina uma autoridade federal que se deve sonegar tudo o que for possível, ao nos dar o exemplo: "Eu sonego tudo que for possível". É bem verdade que para aqueles que vivem de salários, que não são “homens de negócios”, a sonegação é quase impossível, mas há...