Os mistérios da vida política

O título mais adequado, coerente, mais verdadeiro, talvez, seria: “O Baixo Corporal e o Baixo Material dos Políticos”. Mais verdadeiro, mesmo, seria “As Trapaças dos Políticos”.
Sim, e só da vida política? Só dos políticos? E da vida jurídica, não? Dos juízes, ministros, procuradores do Supremo, não? Os gênios retardatários da ciência humana proclamam em alto e bom tom: “o Direito não é uma ciência exata”. Eis a descoberta genial! E em nome da lógica sagrada desta ciência, magnificam a dedução exata: “logo, o Direito tem múltiplas e controversas interpretações”. Assim, na vida real, o Direito, em nome e por força da ciência inexata, é constituído de múltiplos, distintos, diferentes e contraditórios sentidos. Estes múltiplos sentidos do Direito são usados e aplicados pelos profissionais da “inexatidão”, sempre de acordo e para garantir os interesses de quem está no poder – político, jurídico, econômico…
Por força da “inexatidão” da ciência do Direito, num processo de corrupção, 3 juízes votam pela condenação do político, mesmo sem provas materiais do crime e 2 juízes votam pela absolvição do acusado. Aí prevalece a lei da ciência exata: 3 é mais do que 2, logo, o acusado é condenado. Em outro processo, 3 juízes votam pela absolvição do político corrupto, mesmo com provas materiais do crime, e 2 juízes votam pela condenação. Assim, políticos corruptos são absolvidos, sempre por força da ciência inexata. E todos os juízes argumentam, usam e justificam o voto pelos dispositivos das mesmas leis. Assim, a justiça é justa? Ah!, tem caso em que mandam soltar político corrupto por unanimidade de votos.
Perante a lei, somos todos iguais. Está escrito e garantido na amada e temida Constituição de todos.
Assim, mesmo com direitos iguais, diante dos juízes, somos todos diferentes e desiguais. Quem decide pela condenação ou absolvição é o poder da desigualdade social. Em nome da inexatidão da ciência do Direito, tudo vale para as múltiplas e controversas interpretações dos fatos históricos reais materiais. A Constituição, as leis, os decretos, os estatutos, os regimentos, os regulamentos… estão sujeitos a diversos e divergentes usos/abusos ideológicos, reflexos dos horizontes (anti)éticos e (anti)morais de quem tem o poder de julgar e decidir.
Bem, aplicando o velho dístico popular “ele é dono do seu nariz e eu sou dono do meu” (do meu, o que mesmo?), logo…
Mas, o pior de tudo é o fato segundo o qual os gases exalados pelo baixo corporal e pelo baixo material dos políticos corruptos está infestando e envenenando, cada vez mais, o ar que respiramos diuturnamente.
– Condena e prende Temer! Temer preso.
– Solta Temer! Temer livre.
– Prende novamente o Temer! Ele é corrupto.
– Troca de prisão o Temer, pois ele tem direito à cela especial: banheiro e chuveiro privativos, TV, frigobar, videogame, brinquedoteca, sofá confortável…
– Solta Temer! Ele tem imunidade parlamentar!
– O que? Imundicidade? É?

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.