“Os Fins não Justificam os Meios”. Mentira!

As novas estratégias dos protagonistas, dos proprietários e donos do capital nacional e do capital estrangeiro, aliados sempre aos donos do poder político neoliberal, sempre assistidos e  iluminados pelos seus intelectuais orgânicos –  economistas, altos funcionários do direito e da justiça e tecnocratas das media e jornalistas do Top – é inventar e aplicar novas trapaças para alienar a opinião e a vontade das massas populares.

Na teoria, os trapaceiros continuam proclamando o dístico popular – histórico, ético e dogmático – “os  fins não justificam os meios”, para, na prática, fazer o contrário.  A lógica estratégica das trapaças é o seguinte: primeiro, é  tomada a decisão, o fim desejado, almejado; depois, são arquitetados os meios, os mecanismos  legais-constitucionais para justificar o fim.

Primeira ordem: “é preciso tirar a Dilma da presidência da República” – Como, se não tem provas de crimes? – “Não importa! Há dispositivo constitucional que precisa ser aplicado, segundo o qual a maioria dos deputados e dos senadores votando pelo impeachment, a Dilma está fora da presidência”, Eis aí o meio – a arma –  justificado pelo fim.

Segunda ordem: “- o Lula não pode voltar a ser presidente do Brasil! Portanto, não pode ser candidato, pois se for candidato, será eleito pelos petistas” – “Mas, e quem pode impedir o Lula ser candidato?” –  “A Lava Jato, o Sr. Moro” – “Mas se não houver provas dos crimes? – “Não importa, Lula deve ser condenado e preso antes das eleições! Está decidido” Os meios legais – os argumentos jurídicos – o Moro vai inventar”. E assim foi feito.

Terceira ordem: “ precisamos eleger Bolsonaro  para presidente do Brasil”. – “Mas como, se ele não entende nada de economia, nada de educação, de ciência, de cultura, de agricultura, de etc. etc…?” Aí, quando candidato, Bolsonaro discursava para os pobres, a favor deles, para ganhar os votos deles. – “O emprego voltará, a corrupção acabará, os criminosos e os bandidos eu acabo com eles”. Agora eleito, trapaceia e trama políticas para garantir os ricos continuarem mais ricos às custas dos pobres.

Para entender melhor o poder subjacente desta conjuntura de barbáries e trapaças políticas, vou  me valer de escrito de Eduardo Galeano – “O livro dos abraços” – A vida profissional. (L&PM Editores, 2018, p. 106-107).

Os banqueiros da grande bancaria do mundo, que praticam o terrorismo do dinheiro, podem mais do que os reis e os marechais e mais do que o próprio Papa de Roma. Eles jamais sujam as mãos. Não matam ninguém: se limitam a aplaudir o espetáculo.

Seus funcionários, os tecnocratas internacionais, mandam em nossos países: eles não são presidentes, nem ministros, nem foram eleitos em nenhuma eleição, mas decidem o nível dos salários e do gasto público, os investimentos e desinvestimentos, os preços, os impostos, os juros, os subsídios, a hora do nascer do sol e a frequência das chuvas.

Não cuidam, em troca, dos cárceres, nem das câmaras de tormento, nem dos campos de concentração, nem dos centros de extermínio, embora nesses lugares ocorram as inevitáveis consequências de seus atos.

Os tecnocratas reivindicam o privilégio da irresponsabilidade:

– Somos neutros – dizem.

 

Sobre a fração financeira-rentista do capitalismo neoliberal, Galeano é mais  exato:

O sistema: Com uma das mãos rouba o que com a outra empresta.

Suas vítimas:

Quanto mais pagam, mais devem.

Quanto mais recebem, menos têm.

Quanto mais vendem, menos compram.

 

É isso. Igual à democracia sem partido.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.