Há locaute/greve de caminhoneiros. As cidades estão paradas porque não há gasolina, as gôndolas dos mercados estão ficando vazias. Os empresários dos transportes com o rabo recolhido entre as pernas porque, pela vez primeira, a polícia abriu 67 inquéritos para investigar ‘locaute’, coisa que jamais fez.
Os petroleiros da refinaria de Paulínia já estão em greve e na madrugada entra em greve nacional toda a categoria: em defesa da Petrobrás. As aulas estão suspensas nas universidades e na maioria das redes estaduais de ensino.
O neoliberal prefeitinho de São Paulo, Bruno Covas, vem a público para dizer que tudo está normal em São Paulo, mas que somente pode garantir o tráfego dos ônibus até terça! Isso que é normalidade! E ainda que normal, faz um apelo: os cidadãos não podem ser prejudicados e a greve tem que terminar.
Pois a greve que abastece vai caindo, diminuem os pontos de bloqueio. Mas esta parada deu o sinal de alerta e mostrou o poder de uma categoria profissional. Eles podem parar o país. Morrem frangos, o leite é jogado fora, não há insumos para alimentar os porcos… ainda assim os agricultores vinculados e explorados pelo agronegócio dão apoio aos motoristas que estão nas estradas!
Algo de novo está acontecendo no país, mas os imbecis que o governam são incapazes de perceber o ambiente social e a ebulição que se anuncia.
O “coisa”, já sem viagra para atender a bela, recatada e do lar, reúne-se com o intocável Pedro Parente. O ministro da fazenda saiu do encontro dizendo que haverá aumento de impostos para cobrir os custos dos subsídios oferecidos aos empresários dos transportes no óleo diesel. Um rombo de 9,8 bi que o povo tem que pagar.
Mas vai mais longe o imbecil ministro: avisa que dentro de três meses os preços do óleo diesel voltarão a ter os reajustes segundo as oscilações do mercado… O mercado: somente o mercado, esta instituição não invisível, mas com mão gatuna que tudo recolhe para si. Sabemos que é “o mercado”. E os ministros e “coisa” só enxergam o mercado.
Como Pedro Parente esquece que o maior acionista da Petrobrás é o Brasil, continuará presidente da estatal prestando os serviços prometidos aos acionistas do exterior… aqueles mesmos a quem deu de presente alguns milhões antes mesmo de a justiça norte-americana se pronunciar.
E este Pedro Parente não cai e manda no “coisa”. A administração da crise se faz pondo mais lenha para que o fogo cresça até que tudo se queime… parece que não temos governo! E mesmo estes imbecis acenando para o “mercado”, a Petrobrás perde “valor de mercado” para desespero da leitoa da Rede Globo.
Enquanto isso, outros imbecis pedem intervenção militar. E os generais da reserva se manifestam, mostrando suas garras fascistas! Para agrado dos bolsomitos e dos que enriqueceram na ditadura militar (neste tempo havia até um ministro que tinha o apelido dado pela imprensa francesa de “ministro 10%”). E para alegria de outros incautos imbeciloides que levantam bandeiras nacionais imaginando que o que nos falta é “ordem” e que com a “ordem” tudo virá como graça divina. São estes os mais burros de todos. Mal sabem que com a intervenção que pedem nem Bolsonaro sairá ileso!
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Termino de ler sua crônica rindo, professor Geraldi. O senhor sabe expressar a cena tétrica nacional com ironia forte, um quase-escracho necessário ao momento. Bom seria se o Coisa soubesse ler…
Obrigado. Queria mesmo que neste momento mais ou menos trágico, percebêssemos o lado cômico!
Muito bom, Wanderley! Me deliciei com seu texto. Vou adotar o apelido “Coisa”, já que me nego a pronunciar aquele nome.