As palavras e as cenas risíveis seriam inacreditáveis se não fossem jogo de cena das trapaças sem fim para cativar apoio da plateia de alienados, estes cada vez em menor quantidade. Quando o número de alienados diminui, aumenta o alento dos não alienados e dos menos alienados.
Contratar dezenas de parentes, companheiros e companheiras, na administração pública nos gabinetes dos Bolsonaros vereador, deputado e senador, sem concurso público, é nepotismo segundo as leis vigentes e de acordo com os princípios éticos e morais. Porem, os Bolsonaros estão acima das leis e dos princípios. Assim, o desalento volta em níveis elevados com dores mais profundas diante do decoro e da prepotência presidencial. É o resultado contumaz da união, do casamento da ignorância com a maldade, da incompetência com a má intenção. Por força deste casamento indecente e indecoroso, o presidente Bolsonaro proclamou que contratar parentes para administração pública, sem concurso, pelos filhos, “não é nepotismo”. Justificou que os parentes, próprios e os parentes dos amigos, foram contratados, por ele e pelos filhos, por serem altamente qualificados e competentes e pela alta e elevada confiança que merecem. Ele só não falou que era por segurança nas tramas e trapaças sigilosas dos seus filhos políticos. Com tais argumentos não há lei que aguente.
E para aqueles que não acreditam e não concordam com tais argumentos para descumprir as leis, Bolsonaro argumentou que um chefe, assessor, funcionário de confiança do vereador e do deputado não precisam comparecer no local do trabalho, exatamente por ser um parente de alta confiança – parente do político. Portanto, os funcionários de políticos podem receber salários robustos sem a necessidade de comparecer e trabalhar na Câmara de Vereadores e na Assembleia dos Deputados. Sequer, precisam usar crachás e assinar livro-ponto. Uma parente pode ser até babá na casa do político, outra parente pode ser empregada doméstica na casa da praia e receber salários mensais do tesouro da nação.
– Mas, presidente Bolsonaro, e as leis e os princípios éticos e morais? Pra que servem?
– Que se danem! Não estou nem aí para as leis e os princípios éticos e morais. Eu sou o presidente, não busco apoio, eu mando e determino. Ah! E tenho a força e o apoio do presidente Trump. Ainda outro dia, ele – Trump – rasgou seda para mim e para o meu filho Flávio, aspirante a diplomata e embaixador nos EUA. Ele me disse, de viva voz, que ama o Brasil, que eu e minha família somos maravilhosos.
-Mas, presidente Bolsonaro, ele – Trump – não estaria mentindo? Não estaria fazendo trapaças com o senhor e o Brasil? Por acaso, ele não está querendo as nossas riquezas a preço de banana?
—Que nada, para retribuir aqueles elogios e amores de Trump, eu declarei “que estou cada vez mais apaixonado por ele”.
Assim, na condição de preconceituoso e homofóbico declarado, sequer enrubesceu ao fazer esta declaração ao Trump.
Para não deixar dúvidas sobre o caso do nepotismo, há leis vigentes que proíbem a contratação de parentes na administração pública por políticos, em todas as esferas do poder nacional.
Nepotismo, em sua essência e em seu sentido real, é o favorecimento sistemático à família, pela contratação, pelo emprego na administração pública, sem concurso, de parentes até o terceiro grau, incluindo companheiros e companheiras dos políticos – contratação pelos políticos para beneficiamento pessoal com altos salários às custas do tesouro da nação.
O nepotismo é proibido por leis. A própria Constituição Federal de 1988 estabelece as normas para contratação de servidores públicos mediante concursos rigorosos; pelo Decreto Federal nº7.203, o nepotismo é vedado no âmbito da administração pública em todos os níveis; pela 13ª Súmula Vinculante do Supremo Tribunal Federal – 2008, o nepotismo é proibido nos três Poderes no âmbito da União, Estados e Municípios. Estas leis devem ser obedecidas por todos os órgãos públicos.
Porém, os Bolsonaros estão acima das leis. Logo…
Resta saber qual será o destino dos Bolsonaros e os seus mais de 40 parentes contratados na administração pública sem concursos, recebendo salários sem sequer precisar trabalhar no lugar do emprego de confiança, com o fim único de renda às custas do tesouro da nação.
Pelo andar da carruagem – passos troteados de juízes que cuidam dos processos – salvo engano, todos sobreviverão e viverão felizes e livres pelo resto de suas vidas.
E nós…?
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
Comentários