Na coletiva de imprensa realizada ontem, convocada pela presidente do TSE, a ministra Rosa Weber, o ministro do Gabinete da Segurança Institucional (responsável pelos assuntos de “inteligência” no país), o Gen. Sérgio Etchgoyen, lembrou que durante a vida viveu muitos momentos em que “arautos do apocalipse” previam coisas medonhas para o país…
Esta remessa ao apóstolo São João foi para fazer recordar: há poucos anos menos de dois mil séculos, o eremita de Patmos teve suas visões do fim do mundo, com todos os seus horrores. E o fim do mundo não veio, como não chegaram os “maus tempos” para o Brasil como previram e continuam prevendo estes “arautos do apocalipse”.
Obviamente, a ninguém compete julgar as crenças do General. E certamente dentre os livros das Sagradas Escrituras, o Apocalipse é o mais metafórico de todos eles. A se crer nas revelações e na descrição dos males nele contidas, certamente já tivemos muitos apocalipses na história destes quase dois milênios: a queda do Império Romano e a balbúrdia social que se seguiu; a nada Santa Inquisição, um tribunal usado para perseguir quem pensava diferente do definido que pensar se deveria [incluindo nas fogueiras aqueles que pesquisavam as possibilidades de uso de remédios naturais e também mulheres denunciadas como “bruxas” por homens que perderam a potência quando tentaram estuprá-las]; a Primeira Grande Guerra; o nazismo na Alemanha e seus campos de concentração; a Segunda Grande Guerra. Isto para ficarmos em exemplos conhecidos por todos. Metáfora por metáfora, todos podem ser considerados tempos apocalípticos.
Neste quadro, cabe a pergunta: quem seriam os atuais “arautos do apocalipse” neste processo eleitoral brasileiro? A quem ele estaria se referindo em sua fala? Como todo o contexto da longa coletiva foi para tranquilizar a população de que o TSE fez tudo, que há correção absoluta no sistema eletrônico e votação, que vivemos a mais perfeita lisura no processo eleitoral que estamos vivendo, então os arautos do General devem ser aqueles que dizem o contrário.
Teremos que buscar estes discursos dos arautos para encontrar a referência concreta do General. Que campanha prevê um amanhã apocalíptico? Bastaria, para tanto, ficar atento a manchetes da imprensa tradicional e alternativa para descobrir com rigor quais discursos preveem um amanhã equivalente às revelações recebidas por João em sua ermida em Patmos. Vejamos apenas manchetes de hoje:
- Filho de Bolsonaro ameaça fechar STF caso julguem e cassem o pai por seus crimes. Romper-se-ia um dos sete selos? Nem ao STF cabe julgar crimes denunciados e comprovados como o financiamento empresarial à campanha do candidato de extrema direita?
- Ameaça de estabelecer uma ditadura. E seus correligionários nazistas convocam ato “cívico” para gritarem por ditadura com o símbolo nazista.
- Em teleconferência para seus adeptos,conforme registra a Folha, Jair Bolsonaro anunciou a ditadura que será o seu governo:
Em fala de cerca de dez minutos, prometeu “uma limpeza nunca vista na história desse Brasil”, se eleito.
“Vamos varrer do mapa esses bandidos vermelhos do Brasil”, afirmou, sob gritos de “Fora PT”.
“Essa turma, se quiser ficar aqui, vai ter que se colocar sob a lei de todos nós. Ou [então] vão para fora ou vão para a cadeia.”
“Esses marginais vermelhos serão banidos de nossa pátria”, acrescentou.
“Senhor Lula da Silva, se você estava esperando o Haddad ser presidente para assinar o decreto de indulto, vou te dizer uma coisa: você vai apodrecer na cadeia”, disse Bolsonaro, aos gritos de “mito”.
“Brevemente você terá (o senador petista) Lindbergh Farias para jogar dominó no xadrez. Aguarde, o Haddad vai chegar aí também, mas não será para visitá-lo não, será para ficar alguns anos ao seu lado.”
- Equipe do Ibama atacada em Rondônia: esse é o Brasil de Bolsonaro
Há algo que irrita muito o candidato da extrema direita: falar em ambiente. Sempre que pode, não só não cumpre as leis de proteção ao ambiente, como grita contra todo e qualquer limite que se queira impor à exploração em nome de um futuro para o país e para o planeta. A foto é da FSP: um carro de equipe do IBAMA incendiado por fanáticos bolsonaristas, garantidos pela certeza da impunidade no governo que se aproxima. Existiria imagem menos apocalíptica do esta?
Diante destes fatos, minha conclusão é que o General Etchgoyen quando falava dos “arautos do apocalipse” estava se referindo ao que vem propondo como futuro, amanhã, a campanha de Jair Bolsonaro e de todos os seus filhos e seus adeptos.
Será que é isso? Seria isso mesmo? Estaria certo pensar esta referência para o discurso do General? Estaria o sempre bem informado serviço de inteligência nos dizendo que não se pode apostar neste futuro apocalíptico?
Democrata como é, o General Sérgio Etchgoyen acrescentou algo em seu discurso: na segunda-feira, dia 29 de outubro, festejaremos os resultados e o eleito será o presidente de todos os brasileiros. Garantida a posse do eleito, então se eleito for o homem da mais extrema direita brasileira, o apocalipse se concretizará como anunciado na campanha. Mas se não for eleito, e Haddad ganhar as eleições, garante o General sua posse… contradizendo, pois, declarações antigas do Gen. Villas Boas que somente aceita um resultado ou então haverá intervenção militar. E todos sabem qual resultado quer o Gen. Villas Boas.
Existiria imagem menos apocalíptica do que esta?
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Tempos sombrios, professor. Aqui em SC estamos.sofrendo pressão por parte de uma desinformada do MBl eleita deputada.