Segundo o general do Exército, Walter Souza Braga Netto, a intervenção na segurança do Rio de Janeiro pode vir a ser um laboratório para o país! Obviamente, o general está falando do sucesso que terá o empreendimento, porque não deixa por menos. Para obtê-lo no que concerne à violência espetacularizada pela Rede Globo e demais mídias tradicionais, até que é fácil. Trata-se simplesmente de firmar acordo de territórios entras as facções do crime organizado, definindo limites e nenhum incômodo para ações no interior de cada “estado” que venha a ser criado pelo trato!
O problema que restará será aquele da violência não espetacular, aquela que não aparece nos jornais televisivos, do “avanço no bolso do alheio”, dos pequenos furtos, da violência doméstica, do desespero que a necessidade obriga etc. Esta violência pouco visível permanecerá existindo. Em geral ela não implica em morte. Quando isso acontece, aparecerá no espetáculo televisivo, mas ficará como fato isolado. A grande violência, aquela que resulta da luta entre facções, esta a intervenção resolverá facilmente com a delimitação dos territórios.
E com uma segunda mudança radical – mais difícil de conseguir – nas polícias viciadas com seu ganho extra na oferta de segurança aos traficantes que dominam cada região. Se a intervenção conseguir educar os agentes públicos das polícias, para que cada um receba dentro dos limites próprios dos espaços em que age, então teremos enfim a pacificação (das facções, obviamente). Tudo será uma questão de ‘diálogo’ bem encaminhado, com autoridade e com ameaças de repressão para quem sair dos limites próprios que serão impostos a partir do desenho numa mapa da cidade. Estratégia militar: comando e obediência.
Mas o verdadeiro laboratório não é bem esse!!! Penso que o objetivo da intervenção é outro: criar esta “pax militari”, elevar ao máximo o discurso sobre a segurança pública, demonstrar o sucesso da intervenção militar. E o general Braga Netto ou alguém que lhe seja superior hierarquicamente dentro dos quartéis surgirá como nome tão buscado pela direita para candidatura em 2018. Ingênuos são os que pensam ser Bolsonaro. Não será. O ungido ainda não surgiu. Ele resultará do “sucesso da empreitada no Rio de Janeiro”.
Um general candidato, brandindo o sucesso da intervenção, elevando o tom do discurso sobre a insegurança em que vivem os cidadãos de bem, terá apelo popular, sem a menor sombra de dúvidas. Tanto a classe média quanto o povão estão cansados da violência. Quem não está?
Como a esquerda de modo geral, e o PT de modo particular, incluindo Lula, não dispõe de uma política de segurança pública compreensível para a população, com a emergência de um candidato da caserna, com sucesso na segurança pública devidamente exaltada pela mídia, as eleições de 2018 poderão contar com Lula. E elas legitimarão o golpe de 2016, com a eleição do general candidato da segurança para o povo carente, que não percebe as causas da violência que sofre e que pratica dentro de suas próprias casas.
E então FHC poderá dormir sossegado: não precisará mais andar à cata de um candidato de Direita. Ele vai aparecer nos próximos meses no Laboratório do Rio de Janeiro. Restará a FHC e seus asseclas baterem continência, com o Picolé de Chuchu caindo fora do páreo; com Ciro Gomes de recolhendo a seus destemperos verbais; com Marina Silva de vozinha fina baixando a cabeça como de costume; com Bolsonaro livre para aumentar seu patrimônio, que ninguém é de ferro.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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