O que será, que será?

Por Cristina de Araújo*

Chega um momento em que a atividade mental começa a transbordar para todos os lados, sai dos limites do trabalho e começa a invadir até os encontros com amigos.

Alguns amigos levam a sério essa ebulição de ideias e conduzem para que a efervescência não cesse.

Alexandre Costa é um desses caros amigos que estimulam, interpelam e promovem espaços para que o pensamento circule.  É, então, aquele que propõe destemidamente o diálogo, que é tomado pela catarse e diz: “É preciso escrever!”.

Eis o suficiente para se encontrar novos portos, outras passagens. E nesse caso, escrever é evocar outros pensamentos, outros interlocutores.

A educação é, para mim, um assunto sobre o qual não apenas penso, mas vivencio. E essa condição permeia meu cotidiano, direciona meu olhar e incita minha postura responsiva. Só me parece possível estar nessa condição, porque estamos em constante deslocamento, assim como se deslocam nossos horizontes. Disso decorre a necessidade de uma vida de encontros, de escolhas e de participação em uma experiência estética que desconhece a isenção ou a indiferença.

É nesse sentido que pretendo fazer minha passagem por esse blog: pensando e escrevendo, já que ninguém mais poderá ver o mundo como apenas eu vejo; pensando e escrevendo, uma vez que a experiência estética torna-se algo singular em mim, na unidade da minha responsabilidade.

E acima de tudo, minha passagem por esse blog é uma atitude responsiva àquele que é parte constitutiva do sujeito que sou. Desde o início dos anos 1990, é com Geraldi que dialogo. O primeiro deslocamento que ocorre na professora que eu era, em minhas classes de ensino fundamental, decorre de um encontro com O texto na sala de aula. E a palavra de Geraldi – o autor, o professor, o militante – passa a ser um apelo a minha contrapalavra. De Portos de passagem sou lançada a Bakhtin e Foucault, e assim minhas inquietações e minha escritura vão enunciando a ética que me constitui.

Mas, finalmente, Geraldi passa a ser também o Wanderley – o amigo do Alexandre, o blogueiro do Passagens – que abre uma via para que, em seu blog, eu faça minha travessia. E o que penso sobre isso? O que será, que será? Gratidão. Respeito.

* A professora Cristina de Araújo escreverá às segundas-feiras neste Blog.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.