O presidente com medo das Hienas

A autocomparação e autoproclamação pelo Jair Bolsonaro das semelhanças entre o leão, rei das selvas nas savanas – atacado e acossado por hienas vorazes – e ele, o presidente do Brasil, tem elevadas matizes e elementos de verdade política e moral.
As semelhanças analógicas entre os seres leão e presidente diferem, na essência, quanto à imagem, à anatomia biológica, à estrutura fisiológica e genética na escala da natureza vital. Um – leão das savanas e outro, leão do Palácio do Planalto.
Já as hienas vorazes, animais carnívoros, concorrentes do rei leão, diferem das “hienas” rotuladas humanas de oposição e inimigas do presidente, pela natureza de posições e posturas éticas na disputa pelo poder, pelos bens e pelo modo de vida.
O fato inédito, original, inventivo, criativo é o ato do próprio presidente de se autodenominar “leão atacado por hienas”. Em vídeo, postado nas redes sociais por si mesmo, o leão apavorado aparece rotulado de presidente Jair Bolsonaro e as hienas rotuladas de STF, imprensa, OAB, PT, PCdoB, CNBB, ONU e outras mais, todas muito vorazes atacando o leão, quer dizer, o presidente. Ele mesmo se autoproclamando de vítima da violência selvagem, porque criticado pelos opositores.
A moral da analogia – identificação de semelhanças – que o Bolsonaro quis inculcar à opinião pública, é a imoralidade e a inverdade das críticas cada vez mais contundentes, segundo ele, que vem recebendo pela imprensa e pelos opositores – nacionais e internacionais.
Acontece que, pelas leis da natureza dos animais, as hienas não atacam o leão para devorá-lo, mas para espantar, afastar da vítima abatida, a carniça, que elas não conseguem abater pelas próprias forças, alimento vital que elas roubam do rei leão.
Ainda pelas leis da natureza, prevalece a lei das selvas, do mais forte, o leão, animal mamífero mais poderoso nas savanas. Mas tem um detalhe vital: o leão macho não caça. Ele não corre atrás das presas. Ele fica postado em lugar mais elevado, em cima de pedras enormes ou troncos de árvores, bem calmo e seguro, de olho nas presas. Quem fica de butuca, que corre atrás das zebras, antílopes, veados, guinus, búfalos, zebus, são as leoas – as fêmeas do leão. E quando elas apanham uma presa e sufocam pelo pescoço até morrer, aí o leão macho – rei leão – se aproxima e solta rugidos bem fortes e ameaça morder as leoas. Para não dar briga em família, as leoas se afastam e deixam a carniça para o leão comer, o bastante e o melhor da caça – o filé mignon.
E as hienas? Bem, elas são bem pequenas e frágeis, por isso se organizam em volta da carniça e dos leões, em número bastante elevado. Aos poucos, vão chegando perto da carniça e mordendo a bunda das leoas. Quando atacadas pelos leões fogem em alta velocidade. Mas voltam em seguida. Fazem esse jogo – combate – na luta pela disputa da carniça até os leões e as leoas – já alimentados e com medo – irem embora. Aí, as hienas fazem a festa.
Este linguajar analógico tem semelhança, identificação entre a fala do planalto e o rugido das planícies das savanas. Mais uma bizarrice política para o povo achar graça – um populismo grotesco para despertar confiança do público ingênuo. Uma ignorância mútua consentida.
O leão ruge para afastar as hienas da carniça nas savanas. O presidente fala impropérios para intimidar e aniquilar os opositores e críticos do seu governo.
Ele esqueceu, bem ou mal-intencionado, de rotular mais três hienas: Carlos, Eduardo e Flávio. Mas, como eles são leões machos não podem ser hienas, mas filhos, concorrentes da propriedade – dos bens comuns, bens de todos.
Diante destas histórias estarrecedoras da nossa política neoliberal destrambelhada é preciso não esquecer que os fatos reais sempre são maiores, mais verdadeiros e de maiores lições a aprender do que os fatos narrados, denunciados e criticados.
Precisamos urgentemente combinar, no horizonte dos escritos de Antônio Gramsci e Ítalo Calvino, o “pessimismo de inteligência” com o “otimismo da vontade”.
É assim? Penso e sinto que precisamos perseverar e nos manter sempre no plano da luta e da ação política. Precisamos lutar contra a realidade terrível do governo que temos e da sociedade que fazemos parte, mesmo a contra gosto.

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.