O POVO NAS RUAS NO CHILE – E NO BRASIL?

Assistimos – vivemos e sofremos sem poder dormir tranquilamente – o mundo em ebulição. É impossível, em sã consciência, não ter medo das tragédias naturais e humanas, frente ao real apocalipse planetário, por conta da degradação ecológica, das leis de polarização e desigualdade social, das crises econômicas e dos terrorismos ideológicos e fundamentalistas globalizantes.

Os governos autocráticos, em expansão global desmedida e sempre em sacrossanta harmonia conjugal com o judiciário, são o prenúncio de tragédias e calamidades jamais vistas.

Um falso deus, inventado por intelectuais ávidos por propina, mascarado de populismo democrático – o ultra-neoliberalismo – vem se impondo, produzindo e determinando calamidades e crises globais, naturais e humanas, insuportáveis.

Aí, as perguntas.

Como entender este mundo da fase planetária eletrônica, em processo de globalização sem fronteiras e, ao mesmo tempo, em construção de novas fronteiras intransponíveis materiais, raciais e ideológicas?

Como evitar e impedir as degradações ambientais do planeta?

Como extinguir os abismos das desigualdades sociais, em galopante expansão nos últimos anos? Ou, como diminuir as desigualdades sociais em níveis e ao ponto de que todos os seres humanos usufruam de plenas e saudáveis condições de vida, individual e social, de bem estar?

Como e porque não eleger mais governos autocráticos e ditatoriais fascistas daqui pra frente?

Quais são as forças sigilosas, escondidas estratégica e intencionalmente por trás dos bastidores do palco global, e que vem determinando as condições materiais para a produção, reprodução e constituição do mundo que temos e do qual fazemos parte?

É muito complexo e difícil entender e explicar este mundo. Porém, é possível apontar alguns elementos  – forças sociais, políticas, jurídicas – determinantes, embora camuflados, ou protegidos pelo sacrossanto poder do dinheiro.

O dinheiro e o capital das corporações rentistas, das corporações do petróleo e das corporações do agronegócio são as grandes forças que promovem e determinam os acontecimentos na sociedade ultraneoliberal no início do séc. XXI. Virou moda global os governos autocráticos populistas se camuflar e fantasmagorizar de democracia para legalizar e legitimar o poder autoritário, ditatorial, corporativista das elites do capital.

Os políticos conservadores de direita se elegem com os votos do povo por força da nova tecnologia midiática – o “príncipe eletrônico” da fase planetária – manipulando e alienando a opinião pública e escondendo as reais intenções e os verdadeiros interesses em jogo. É a força da `velha´ lei do positivismo: falar e dizer uma coisa na teoria para poder fazer seu contrário na prática. Prometer o combate e a extinção da corrupção para se eleger e continuar a roubar, sem ser preso pela polícia e nem condenado pela justiça.

E quando uma grande parte do povo é seduzida e induzida a votar em políticos e candidatos – quando eleitos viram governo – que dilapidam direitos sociais já conquistados; que reduzem e asfixiam investimentos públicos para a educação, a ciência, a cultura, a saúde, os transportes, a aposentadoria(!); que aumentam o abismo das desigualdades sociais; que estimulam e incentivam a degradação do meio ambiente; e que dizem asneiras aqui em casa e pelo mundo inteiro, o que resta a fazer?

Bem, ao longo da história, as praças, as avenidas, as ruas, os logradouros das cidades se constituíram e ainda se constituem em espaços públicos – campos de batalhas e de lutas de classes sociais – para mobilizações e concentrações de protestos e manifestações do povo. É o campo de batalha das massas populares, portanto, dos pobres – empregados, desempregados, viventes e sobreviventes das ruas, vendedores autônomos de rua – irem à luta.

No Brasil, nos últimos dois anos, o abismo da desigualdade vem crescendo assustadoramente. O 1% dos mais ricos ganha mais do que os 60% dos mais pobres. Nos últimos dois anos a renda dos 10% mais pobres diminuiu 7,2%, ou seja, R$153,00, enquanto a renda de 1% dos mais ricos cresceu 8,4%, ou seja, R$27.774,00. Assim, o 1% dos mais ricos recebe 33 vezes mais que os 50% dos brasileiros mais pobres. É a desigualdade mais trágica da nossa história.

Em protesto ao mundo trágico e contra os governos autoritários das elites políticas e financeiras, as ruas, as praças, as avenidas estão em chamas. Milhões de manifestantes em diversos países em redor do planeta – Chile, Equador, Honduras, Reino Unido, Catalunha, Líbano e outros – ocupam os espaços públicos em movimentos do “quebra tudo”. As lições de luta vem de fora do Brasil.

E aqui, onde estão os partidos de esquerda e de oposição? os múltiplos e diversos sindicatos dos trabalhadores, dos funcionários públicos, as associações de professores, os diretórios de estudantes, enfim, o povo que está sendo lesado mortalmente por reformas absurdas do atual governo? Vamos continuar assistindo a destruição do Brasil prostrados de joelhos? Até quando?

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.