A mal pretensa popularidade do atual governo conservadorista pretende se manter viva e cada vez mais forte pela encenação de espetáculos grotescos nos palcos do planalto. Os protagonistas e atores – ministros, assessores, políticos… – do conservadorismo autoritário autocrático falam descaradamente uma linguagem cada vez mais grotesca, estapafúrdia e chula.
Ao contrário do que pensam e pretendem, estas falas grotescas vem gerando e projetando uma imagem horrorosa aqui dentro e lá fora. Há cada vez mais intensas críticas na imprensa estrangeira. As manifestações de desprezo e de protestos acontecem em todos os lugares e países onde chegam o presidente, seus ministros e representantes – Estados Unidos, Inglaterra, Europa, até na China. Os nossos protagonistas e atores desconhecem o princípio básico do conservadorismo político: para ser populista precisa ser inteligente. Não basta ser espertalhão grotesco.
No mundo ultraneoliberal conservador de hoje, quem não é populista inteligente – não falso e de mentirinha – não tem vez na política por muito tempo. Aqui no Brasil, nos dias de hoje, vêm acontecendo coisas de endoidecer. O surto de asneiras ditas diariamente e que vem tomando conta do Brasil não infectou somente os ocupantes do palácio – poder executivo. O mosquito do vírus da ignorância e da estupidez hemorrágicas picou e infectou também muitos deputados e senadores.
Nos últimos dias, em sessão polêmica, deputados, sem ter o que fazer na vida, queriam trocar o “gênero” por “sexo”. É isso aí!
– “Tem gente que quer voltar para a Idade Média, talvez das trevas” – assim falou a deputada da esquerda, em protesto.
– “Nós estamos discutindo o sexo dos anjos aqui”, respondeu um deputado da direita.
– “Deus criou macho e fêmea, homem e mulher. Gênero é cadeira, é mesa, é sapato…” – profetizou o deputado bíblico.
– “Cadeira é do gênero feminino, e não é sexo. Nunca vi cadeira trepando! Isso aqui é uma casa de loucos”, contestou um deputado de esquerda. E acertou: é uma casa de loucos. Falas extraídas da crônica de Bruno Boghossian, Fl. de S. Paulo, 02/06/2019.
Pior, de loucos espertos, eleitos por todos nós. Enquanto na Câmara queriam trocar o gênero por sexo, o presidente fez uma pergunta evangélica ideológica a dezenas de pastores de igrejas sem partido.
– “Não está na hora de termos um ministro do STF evangélico?” A resposta por unanimidade dos pastores foi “sim”. Aplausos. Ele estava sentado ao lado do Caiado – por fora branco e por dentro como defunto podre. E tem mais dele.
– “Quem tem armas tem que usar” – falou aos caminhoneiros. E ainda: “Se não aprovar a Reforma da Previdência, o Brasil quebra”.
Não quebra, é só as elites do capital pagarem as dívidas bilionárias à Previdência que devem. O Brasil assim não quebra e não precisa aprovar a Reforma da Previdência. Enquanto tudo isso é falado, em alto e bom som, aqui no nosso – de todos e de todas – Brasil, lá fora na velha Europa, Merkel falou curto e grosso para o Trump: “Derrubemos os murros da ignorância”. Perfeito, madame Merkel.
Agora só para rir: “O ministro cortou verbas da Educação pro país ficar tão ignorante quanto ele!”. Assim escreveu José Simão na Fl. de S. Paulo, 1/6/2019. Para finalizar, uma dica cabal de David Harvey, escrevendo sobre a educação dos trabalhadores. Para ele, a educação de boa qualidade, a educação crítica e a educação de formação da consciência dos estudantes e dos trabalhadores é “uma espinha atravessada na garganta do capital”.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
Parabéns!!! A ignorância tola ligada ao que de pior a direita tem, dá nisso que estamos vendo neste governo. Parabéns Kuiava: vc evidenciou esses nós! Agora precisamos desamarra-los pra sobreviver.
Quem viver, verá!
Ontem, até a Eliane Castanhede, disse q todos os grandes movimentos começam com os estudantes! Quem sabe começamos a soltar os nós, aparentemente cegos da ignorância, com a sabedoria alegre da juventude estudantil! Rumo à Greve Geral!
Ótimo/triste texto! Que os estudantes nos salvem!!!