O Museu Nacional e os presidenciáveis

A tragédia que nos acometeu foi construída muito antes do suposto balão que caiu sobre o mais importante acervo do Brasil. O fogo foi ateado há mais tempo, quando o golpe aprovou a PEC DO FIM DO MUNDO, com o congelamento de gastos na área social.

Como tudo já foi dito sobre o que perdemos, aqui vou imaginar uma entrevista com os presidenciáveis que a mídia tradicional não vai questionar e sequer imaginaria coloca-los no banco dos réus (exceto o Haddad porque na verdade a culpa do incêndio que queimou o passado para destruir o futuro (um passado não revisitado e não ressignificado  apenas fabricará o presente como futuro).

Pois vamos à entrevista e o que diriam os presidenciáveis a propósito da tragédia:

O Fascista: “Tenho raiva quando falam em cultura… Sempre que dizem cultura, saco o revólver. Vou matar todos estes petistas!”

Paulo Guedes, seu assessor econômico: “É como digo, se tivessem vendido tudo e entregue para os colecionadores, isto não teria acontecido. Por isso, o que sobrou em outros museus será leiloado para pagarmos os juros da dívida”!

Picolé de Chuchu: Ahn?? Ahn?? Aconteceu alguma coisa com o Museu Nacional? Veja bem, nosso programa econômico continuará o que vem sendo feito de bom como a responsabilidade fiscal, o teto de gastos, estas coisas que são necessárias para o país crescer. Vou convocar o Skaf para fazer o pato da FIESP fazer o Brasil crescer.

Tudo explicado, nem precisa chamar a assessoria econômica.

Merdeilles: “Hum, hum, hum… ahn? Quando tem problema me chamam, aí eu elaboro a PEC do teto dos gastos. Isso é bom. Gastamos menos, e agora parece que queimou o acervo do Museu, é isso? Bom, não precisaremos mais gastar nada com o Museu Nacional. Isso não é bom? Uma boa notícia. Eu só produzo boas notícias.

Alvorecer do Passado: “Como? Foi o filho do Lula que botou fogo? Eu sabia que tinha a mão do Lula aí. Mas daremos todo o apoio para o que quer que seja, porque meu ministro da Justiça será Sérgio Moro, e aí tudo isso estará resolvido. Com o Moro de ministro, nada acontecerá de bom, quer dizer, de ruim.”

O Cabo da Vassoura: “Ah! Não sabia que existia um museu… Que pena, né? Mas vamos para frente, sempre.”

Lula: desculpem, Lula não pode falar, meu boi Barroso não quer. Na verdade o boi Barroso gostaria mesmo que a palavra, o nome Lula fosse retirado da história, com sua imagem e com tudo, com “o supremo e tudo”.

Haddad, o vice de Lula e seu porta-voz: “Esta conta vai para a PEC do Teto, para o descaso do golpe. Somente uma reação popular poderá nos reconduzir para a construção de uma nação. Eles deixarão, assim no voto?”

Boulos: “Agora o teto se foi… com o que estava dentro. Reagiremos.”

Ciro: “Vou fazer e acontecer para recuperar o Museu Nacional.”

Os demais candidatos não foram encontrados…

 

 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.