A Amazônia está queimando – incendiada por fazendeiros, madeireiros, grileiros e garimpeiros.
O mundo está fervendo – de medo do futuro.
Com lágrimas nos olhos, com dor latejante e profunda no coração, com medo e horror no cérebro, o mundo está cada vez mais unido e com a cidadania humana cada vez maior e mais solidária na defesa e proteção da vida planetária – planeta belo, maravilhoso, generoso, de riquezas sem fim e de coexistência de seres vivos ao infinito. Pasmem! Tão belo e tão rico, o planeta está ameaçado de morte geral, total. Condenado a um planeta sem vida. Por quem? Pelo habitante mais inteligente. O único ser vivo – por enquanto – dotado de inteligência consciente. O ser humano.
As agressões trágicas, destruidoras do ecossistema, por um punhado de seres humanos embevecidos pela ganância sem limites – seres que se “multiplicam e dominam tudo o que há sobre a terra” – estão gerando uma reação, ação contrária, à destruição do ecossistema planetário. O mundo está em movimento, cativado e unido numa frente ampla e universal única, inédita ao longo da história, em defesa, proteção e restauração do ecossistema terrestre.
Como tudo na vida, por força das leis físicas terrestres e espaciais do universo, está partido, dividido ao meio – a metade boa, sábia, confortável, vital, amorosa, poderosa e a outra metade, o seu contrário, má, doentia, desconfortável, mortal, odiosa, omissa, impotente – estamos vivendo uma greve internacional em defesa e por força da metade boa, ou seja, unidos na cidadania em defesa da vida, do ecossistema e contra os governos dementes e seus apoiadores vorazes, com monstruosos efeitos destruidores ecossociais, econômicos, ecoculturais, que vem atingindo o universo.
Primeiro, vamos ver a parte trágica, catastrófica, destruidora do ecossistema planetário pela ação e obra dos seres humanos. É triste, assustador, horrível, ver, olhar e assistir cenas, imagens de fogo devastador e fumaça poluindo, infestando e aquecendo a atmosfera celestial, ao ponto de esconder o sol brilhante. A notícia trágica é que mais de cento e trinta mil focos de incêndio já foram detectados, contados e nem todos contidos e apagados antes da devastação de florestas sem fim, no decorrer de 2019. O mais nojento e trágico é ouvir as mentiras, as falas falsas e trapaceiras dos governantes – seres humanos que, por força e obediência dos princípios de ética, deveriam dar o bom exemplo de cidadania com programas eficazes e eficientes de defesa, proteção e preservação do ecossistema planetário – no caso do Brasil, a Amazônia cobiçada, desejada e espoliada por devastadores nacionais e estrangeiros.
Em meio ao fogo e fumaça, há cenas nojentas de caminhões carregados, clandestinos, com toras de madeiras sendo levadas aos portos; há escavações profundas por máquinas poderosas e modernas, derrubando as florestas, aterrando vales e rios em busca de ouro e outros minérios preciosos, sem o mínimo de cuidado, respeito e proteção do ecossistema de nossa Amazônia. E aqui e agora, não tenho estômago de falar os nomes dos atores culpados por estas tragédias. Os discursos de Bolsonaro e Trump na abertura da Assembleia da ONU – 24/09/2019 – são insuportáveis. Nojentos.
Bem, agora a outra parte, cidadania nacional e universal, energizada pela coragem, pelo amor, pela vida em luta pela vida do planeta terra, é alentadora. Fiquei orgulhoso, valente e emocionado ver e escutar crianças, adolescentes e jovens aos milhões no mundo inteiro protestando aos gritos nas praças, nas avenidas, nos parques, em frente dos palácios, contra as agressões ao ecossistema e a favor do clima. Uma mobilização de jovens no mundo pelo seu futuro – do mundo e dos jovens. Movidos por uma consciência jovem aguda e por uma cidadania humana ativa, os jovens e manifestantes presentearam o mundo adulto com lições de coragem, inteligência e amor à vida.
Vou terminar este escrito com parte do discurso da jovem ativista sueca Greta Thunberg, 16 anos, quando falou ao plenário da ONU no dia 23 passado, na cara de lideranças mundiais. Com muita cortagem, inteligência e lucidez, Greta falou:
“Isso está tudo errado. Eu não deveria estar aqui, deveria estar na escola, do outro lado do oceano. Mas vocês vêm até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?”
“Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias, mas eu sou uma das pessoas que têm sorte. Há pessoas sofrendo, pessoas morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. Estamos no começo de uma extinção em massa e tudo que vocês conseguem fazer é dinheiro e crescimento econômico eterno. Como ousam? Vocês estão fracassando conosco, mas os jovens estão começando a entender a traição de vocês. Os olhos da geração futura estão sobre vocês. E se vocês escolherem fracassar conosco, nós nunca vamos perdoá-los”(Fl. De São Paulo-B6, 24/09/2019).
Amazônia restaurada e preservada – um compromisso vital do Brasil e do mundo inteiro.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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