O mundo: da guerra fria à guerra quente

“Missão cumprida”. Assim proclamou descaradamente Trump, perfidamente orgulhoso da ordem militar cumprida com pleno sucesso, após a brutal, bárbara e covarde destruição da Síria, com mísseis nucleares poderosos devastadores, jamais usados numa guerra até então. Uma ordem covarde sem limites. Trump não ordenou bombardear o seu poderoso inimigo na casa do rival – a Rússia – mas destruiu a frágil e conflituosa casa de terceiros – a Síria – para botar medo no Putin. Com certeza, se bombardeasse a Rússia, o revide poderia vir em dobro,  desastroso para a vida dos humanos e a vida do planeta. Ou, o mais provável é que Putin teria implodido ou derrubado os mísseis de Trump antes deles chegarem em terra russa. Trata-se de duas potências atômicas rivais históricas em disputa. Trump, com este ato de violência e covardia, está provando para o mundo, cada vez mais caótico, que não aprendeu e que não quer aprender as lições da história. O suposto ataque químico atribuído à autoria de Bashar al-Assad foi a razão do bombardeio e da destruição de uma área sob controle dos rebeldes da Síria. Há indícios reais que o ataque químico foi uma simulação intencionalmente inventada para Trump ordenar e justificar o ataque perante o mundo.

As terríveis e trágicas experiências bélicas da história – as invasões, as conquistas e as  guerras devastadoras mundiais – não foram suficientes e hoje são impotentes de botar medo e impedir as potências militares que dominam o mundo de ordenar ataques, invasões, bombardeios, destruindo países e nações, matando e mutilando milhares – senão milhões – de crianças, jovens, mulheres,trabalhadores e cidadãos inocentes, totalmente indefesos.

As velhas barbáries que macularam a história parece que estão cada vez mais vivas e poderosas, alimentando e energizando novas barbáries – tragédias humanas e bioecológicas jamais vividas. E pior, comandam a guerra por força do velho e fatídico provérbio latino dos tempos do império de Publius Flavius, que continua poderoso e em pleno uso real: “si vis pacem, para bellum”. Para aqueles que não têm muita afinidade com o latim, fica a tradução literal: “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Por conta e força deste dístico, impérios, países, nações, estados, governos e sociedades civis, nos últimos milênios, inventaram e construíram armas com potencial destrutivo sem limites.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a estratégia do “si vis pacem, para bellum” mudou: veio o período histórico da guerra fria, denominada também de “Paz Armada”. O que é que estava em jogo após a morte de milhões de pessoas e dos destroços pelos bombardeios atômicos? Estava em jogo a disputa da hegemonia política, econômica e militar entre os Estados Unidos e a União Soviética – antes e agora, Rússia. Em fim, estava em jogo a disputa entre o capitalismo e o socialismo. Este, o socialismo muito assustador porque em plena ascensão – um estado constituído por um regime de governo comunista e um sistema de produção socialista.  Os dois países estavam armados de mísseis nucleares com potencial atômico. Não convinha deflagrar guerra militar. Não haveria nação vitoriosa, mas duas potências mundiais arrasadas. Aí, então, deflagrou-se a chamada “guerra fria”. Santa ingenuidade!

Mas nem por isso, as duas potências bélicas deixaram de inventar, construir e produzir armas poderosas. As armas viraram mercadoria altamente produtiva e lucrativa. Para garantir a paz, era necessário produzir armas. Houve investimento altíssimo na pesquisa científica e tecnológica na invenção e produção de armas. Para vender mais e com sucesso,  precisava inventar terroristas com seus terrorismos – o presidente Saddam Hussein, Bin Laden… – lutas ideológicas de aliados ou de inimigos de cada uma das potências. A melhor propaganda é inventar e simular terrorismos e possíveis guerras. Assim, eram e continuam sendo vendidas muitas armas. Todos os países, todas as nações passaram a se preparar para a guerra. É claro, com o desenvolvimento da ciência e da pesquisa para o armamento, muitas coisas boas foram inventadas e produzidos para a humanidade: avanços tecnológicos na indústria, na medicina, na agricultura, conquistas espaciais – ida espacial do homem em volta da terra, ida do homem pra lua, satélites para outros planetas, a tecnologia virtual planetária, da qual a humanidade de hoje virou escrava.

Se tivéssemos que responder a pergunta: quanto produz a “paz armada”, hoje, nos países do sistema capitalista neoliberal, o que responderíamos?

E o Brasil, quanto investe e quanto dinheiro gasta de todos para “estar preparado para a guerra”? Quanto custam os quartéis e as bases militares dos quartéis do exército, da marinha e da aeronáutica, o salário das dezenas de coronéis e marechais; dos milhares de majores, oficiais, sargentos e cabos; dos milhões de soldados, todos treinando dia e noite combates e guerras com inimigos fictícios e imaginários, com armas de todo tipo, revólveres, fuzis, metralhadoras, canhões, tanques, aviões, navios, submarinos…?

Tudo por conta do “si vis pacem, para bellum”.

 

José Kuiava escreve neste blog às quartas-feiras

 

José Kuiava Contributor

Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.