Na campanha eleitoral, o dono da Havan, aquela loja kitsch com uma estátua da liberdade na entrada, prometeu a seus empregados que continuaria a pagar o 13º salário depois que o então candidato a vice-presidência, o general Mourão havia declarado que era preciso acabar com esta gratificação.
Bolsonaro desautorizou naquele tempo o seu vice: dizia então que manteria o pagamento, mesmo reconhecendo que “é muito difícil ser patrão”. O tempo passou. As eleições foram ganhas por obra e graça da Lava Jato que tirou da disputa a candidatura Lula, como haviam prometido aos banqueiros o ministro Fux e o procurador ambicioso e avarento Dallagnol.
Agora na presidência, demonstrando diuturnamente sua imbecilidade para o país e para o mundo, vai Bolsonaro encontrar-se com a bancada do seu Partido das Laranjeiras, o PSL, com os demos do DEM e com o paradoxo dos conservadores e retrógrados membros do Partido Progressista para dizer que é contra o artigo 7º da Constituição que garante 13º salário, férias e seguro desemprego, querendo aproximar ao máximo à informalidade nas relações capital/trabalho, ou seja, aumentar ao máximo a exploração do lado mais fraco em benefício do mais forte.
Afinal, ele diz textualmente que “ser patrão é um tormento”, enunciado que pode ser aplaudido por pequenos empresários que vivem do seu trabalho ajudado por seus empregados e vivendo do trabalho deles, imagina-se não trabalhador!
Estamos mais uma vez confirmando o que já se sabia: Bolsonaro veio para arrebentar com a classe trabalhadora, incluindo estes pequenos empreendedores que se sentem o que não são: capitalistas, longe do trabalho.
Alguns consideram que sou duro ao chamar de burros os eleitores do povo, evangélicos pobres que votaram no malogro acreditando, contra os seus próprios interesses mais visíveis, na narrativa da mídia que criminalizou precisamente aqueles que mais atenderam a seus interesses mais imediatos.
Entre o bolso e a vida se aproximando da dignidade e a mentira, preferiram a mentira. E isso é burrice. Mas o medo da diferença, o medo de ter direitos, o medo de viver decente foram maiores: elegeram o Maligno a quem se entregaram. Merecem o fim do 13º, das férias e do seguro-desemprego.
Durante a escravatura, muitos se revoltaram, muitos morreram. Agora estão dóceis, pobres brancos e negros, todos batendo palmas para o MITO que os logra.
Há sempre quem culpe a nós da esquerda porque não soubemos usar a linguagem que atingiu a estes eleitores do Tinhoso. Pois acho que não sabemos nem devemos saber, porque falar como eles, mentir como eles, esbravejar com ameaças infernais os meninos que usem rosa, etc. não é nem será a linguagem da esquerda.
Não nos culpem por sermos corretos, não nos culpem por defendermos que todas as divergências devem ter espaço público onde se explicitarem com candidaturas próprias.
Não nos exijam abraços em frente ampla com inimigos do povo.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
Comentários