“Toda verdade é revolucionária”, assim escreveu Gramsci. E por escrever esta verdade da “verdade”, Gramsci foi condenado e preso. Foi julgado e condenado por crimes que cometeu dizendo e escrevendo verdades às claras, sem medo e sem limites, nos tempos do ditador Mussolini. “É preciso impedir que este cérebro funcione durante 20 anos”. Esta teria sido a argumentação da sentença, alegada pelo promotor fascista no processo que condenou Gramsci à prisão por 20 anos, em 1928. A condenação foi sentenciada por ordem de Mussolini. Gramsci viveu 9 anos no cárcere em condições físicas precárias e em estado emocional deprimente até poucos dias ates de sua morte, 1937, mas não parou de escrever verdades históricas por nenhum instante na cela, com a luz do sol de apenas uma hora por dia. Além de escrever sem parar, alfabetizou companheiros presos no cárcere e ministrou aulas de filosofia até para os carcerários. Lá na Itália, nos tempos do fascismo, Mussolini determinava os julgamentos nos Tribunais da Justiça italiana, de acordo com os interesses das elites econômicas e políticas em conluio com os poderes fascistas.
Aqui no Brasil, quase um século depois, os golpistas, em conluio com juízes, acusam, julgam e condenam Lula, mesmo sem provas de crimes cometidos. Parodiando o promotor fascista italiano, os golpistas brasileiros sentenciam: “é preciso impedir o Lula de ser candidato a presidente do Brasil pelo resto de sua vida”. E assim condenaram e irão prender Lula.
Não quero aqui comparar e igualar a vida e a produção intelectual do grande e ousado pensador do século XX, Gramsci – de família pobre, de infância e adolescência sofridas na ilha da Sardenha, passando fome e quase morrendo de frio na universidade – com a vida e a obra social inédita de Lula – um cabra do sertão, que virou trabalhador metalúrgico, sindicalista e presidente do Brasil durante oito anos, eleito democraticamente. Porém, vejo qualidades humanas e virtudes muito comuns dos dois: a fé,a crença e a perseverança na luta pela transformação social – uma sociedade justa, igualitária e democrática, com hegemonia política dos trabalhadores. Gramsci perseverou até à morte nesta luta. Lula, mesmo condenado, sem nenhuma perspectiva de ser absolvido, continua percorrendo o Brasil todo, conclamando o povo brasileiro – trabalhadores, desempregados, funcionários, mini e pequenos proprietários, acampados e assentados – para um governo comprometido com o social, o comum, com a garantia dos direitos já conquistados e ainda a conquistar dos trabalhadores.
Nesta arena política ideológica acontece a luta, às vezes aberta, às vezes camuflada, de classes – inclusive confrontos militares. Estes, os militares sempre do lado das elites. Na verdade, a arena social e política em que vivemos é um campo de batalha – na acepção de Gramsci – onde existem forças dos exércitos inimigos e as forças dos exércitos aliados. É preciso conhecer e avaliar as forças dos dois exércitos: a disciplina, a disposição moral, as armas e os equipamentos, a capacidade de deslocamento, as táticas e estratégias, a guerra de posições, a formação da opinião pública, a conscientização política, os partidos políticos e principalmente o poder da mídia hegemônica das classes dominantes. A conjuntura de hoje exige o exame e a análise rigorosa desta arena política ideológica como verdadeiro campo de batalha pela hegemonia de classes sociais.
Neste momento da conjuntura política, a luta é pela invenção e fabricação dos candidatos para disputar as eleições. Na ótica dos grupos dominantes é imperativo excluir o Lula da arena.
José Kuiava escreve neste Blog às quartas-feiras
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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