O golpe militar bate às portas do país

O general Mourão foi punido pelo comandante do Exército: a punição é uma transferência para a Secretaria Geral, como adido… Lá terá tempo integral para ajudar na articulação do golpe. Adido não arde, adido adiciona.

A imprensa prepara ansiosa e angustiadamente o desenlace: todas as questões de segurança se tornam manchetes; as compras explícitas de deputados no balcão de negócios que sempre foi o governo que construiu, agora se tornaram manchetes envergonhadas; o mercado sabe que há nacionalismos na região militar, e por isso exige pressa, urgência para a rapina dos recursos naturais. O capitalismo financeiro, que realiza outro tipo de extrativismo, chamado “renda” de um capital mil vezes já pago, tem sua pressa nas reformas que achatem a vida da população para que lhes sobre garantias de rendas eternas, eufemisticamente chamadas de “equilíbrio fiscal”.

E o ministro-fantasma, candidato de si mesmo para a presidência, Henrique Meirelles apressa-se em satisfazer o dragão, pouco preocupado se isso representar doenças e mortes dos “naturais”. Falta pouco para vir a público, imitando o ex-primeiro ministro japonês, pedindo que as pessoas de idade se suicidem para ajudar os bancos e os investidores.

O polícia e o judiciário já estão prontos, disponíveis para o que der e vier. Os primeiros para reprimir, os segundos para autorizarem o que for necessário à repressão.

Por fim, este povo que insiste em aplaudir Lula, a única liderança popular que esta e todas as precedentes gerações conheceram. Para a direita aquartelada, para a direita informatizada, para a direita encastelada na mídia, para a direita na redoma de vidro das “alpha-villes”, é insuportável perceber que “o povo não aprende” e quer votar em Lula!!!

Os sindicatos convocam e desconvocam greves gerais. Os trabalhadores perdem seus empregos e são recontratados pelos mesmos empregadores com salários bem mais baixos, e terceirizados. Reações organizadas não há! Só resmungos individuais.

O ambiente está, pois, pronto. A cama está feita. A mesa está posta. E agora o general Mourão, dedicado em tempo integral à articulação do golpe militar, na função de adido, poderá costurar com mais destreza, com os demais alfaiates do Alto Comando, o golpe que se avizinha.

A igreja católica antigamente dizia: estejam preparados e sem pecados, que o fim pode ser a qualquer momento.

Haverá resistência?

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.