No movimento conjuntural de transição de governos, acabamos de assistir o espetáculo – uma encenação da sociedade não transparente – da diplomação do presidente eleito. A encenação dos atores protagonistas primou pela leveza dos gestos e pela serenidade das imagens faciais e dos delicados movimentos corpóreos. Até os trajes, os modelos de estilos das vestimentas expressavam simplicidade. As posturas de ataque e de defesa da vida real do presidente eleito embeveceram-se de amorosidade. Esta encenação faz parte da onda populista de extrema-direita que procura camuflar o autoritarismo real que pretende adotar a partir do dia 1º de janeiro de 2019.
A mudança da postura, da imagem corpórea e principalmente a mudança do tom da linguagem do discurso – a leveza no lugar do peso, a promessa no lugar da ordem e determinação, a conversa dialógica no lugar da impostura, etc – foi arquitetada e engenhada em conversas de bastidores e em salas esfumaçadas. O discurso foi lido. Não foi produzido no ato da fala. Não foi improvisado no ato – cerimônia jurídica – da diplomação. A cena foi bonita. A presidente do TSE diplomou e entregou o diploma ao presidente eleito com gesto afetuoso, respeitoso. Em agradecimento, ganhou do presidente diplomado um abraço carinhoso e um beijo afetuoso, respeitoso. A juíza foi muito generosa. Inclusive nas recomendações.
Assim, o presidente eleito ganhou o diploma – foi diplomado – sem precisar estudar, ler, escrever e fazer provas e exames escolares. Não precisou aprender os elementos científicos da matemática, da biologia, da física, da química, ; não precisou estudar e nem aprender os pressupostos básicos da arquitetura, da engenharia; nem precisou entender as leis da história, da sociologia, da economia, da ciência política; muito menos precisou entender e praticar os princípios vitais da ética, da verdade, da justiça, etc.,etc.
Então, como ser diplomado – ganhar diploma – sem saber nada disso? Ah!, ele precisou agradar e convencer os eleitores e as eleitoras a acreditarem nele. Ele precisou convencer – além dos apoiadores da mesma classe social – os pobres, os analfabetos, os alfabetizados, os escolarizados e até os literatos, os cientistas, os artistas, etc… A tarefa não foi fácil. Mas ele conseguiu. Essa história já conhecemos.
Já diplomado, o eleito disse que no dia 1º de janeiro será o presidente do Brasil. E será o presidente para todos os brasileiros. Só não disse como será o presidente para todos – se isentará de impostos por inteiro os mais ricos, se doará os nossos bens naturais e o nosso patrimônio histórico aos estrangeiros, se doará a Amazônia para os gringos, se privatizará nossas universidades públicas, se implantará as escolas sem partidos, se acabará com os pobres castrando os indígenas, os quilombolas, os favelados,…
Agradeceu a Deus por estar vivo. Por vontade e força de Deus aguentou a facada nas tripas. Quer dizer, a faca que nem furou as tripas. Uma encenação da tragédia altamente produtiva politicamente.
Sendo assim, senhor presidente diplomado, desejamos com toda sinceridade que o senhor faça um governo para todas e para todos. No verdadeiro sentido e espírito da palavra democracia – demo = povo e kracia = governo. Isto é: governo do povo. Embora, o senhor não seja povo, nem do povo.
Professor, pesquisador, escritor
José Kuiava é Doutor em Educação pela Faculdade de Educação da Unicamp (2012). Atualmente é professor efetivo- professor sênior da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Planejamento e Avaliação Educacional, atuando principalmente nos seguintes temas: autobiografias.inventário da produção acadêmica., corporeidade. ética e estética, seriedade, linguagem, literatura e ciências e riso.
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