O ano promete! E nada será cor de rosa!

Começo de ano é sempre tempo de horizontes que se abrem nos limites das condições que a história e o tempo que vivemos nos permitem enxergar, às vezes, não ver.

A luz do fim do túnel sempre torna escuro o túnel. Chamam de esperança. Às vezes, a luz cega e nos sega: deixamos de viver o presente em função deste futuro que sonhamos, há de vir.

Virá? Sempre é um talvez. Aqueles da minha geração, que enfrentaram a ditadura militar, sabem que por mais sólidas que sejam as muralhas, o tempo lhes abre fissuras.

No presente, no túnel, temos que cavar buracos, criar reentrâncias, acotovelar moralismos e covardias para afastar a primeira muralha, aquela que nos quer impor um regime ditatorial conduzido pelo judiciário. Como disse Fernando Brito, é preciso ter presente que “O império da Lei não é o império dos juízes, nem a lei lhes pertence, nem o país lhes pertence. Nós, também, não lhes pertencemos. Pertencemos a nós mesmos.”(http://www.tijolaco.com.br/blog/verdadeira-retomada-de-2018-e-do-direito-do-povo-decidir/). A batalha primeira tem data marcada: 24 de janeiro, em Porto Alegre, quando três cidadãos nos roubarão o direito de decidirmos nosso futuro.

A segunda batalha é maior: vem com o processo eleitoral, em que poderemos resvalar para a insuportável teimosia das vaidades: a esquerda dividida com candidatos que se esmeram em atacar o companheiro de ideias para garantir a vitória do inimigo que não atacam. A entrevista infeliz de fim de ano de Marcelo Freixo mostrou estas vaidades e conseguiu unir, por enquanto, a esquerda enquanto está disponível a possibilidade da candidatura de Lula. E se ela não mais existir? Não vejo no horizonte qualquer nome capaz de criar as pontes de uma união com base em princípios! Certamente o PPS, acolitado pelo PSOL, vai acabar apoiando o Santo da Oldebrecht, Geraldo Alckmin, porque nada mais próximo da direita do que o PPS e setores do PSOL, com seu esquerdismo chique, também chamado de butique.

Vencida ou perdida esta segunda batalha, facilitaremos ou dificultaremos as possibilidades de construir fissuras no inimigo principal: o pensamento neoliberal e suas práticas! Este momento do capitalismo improdutivo, rentista, concentrador e destruidor das sociedades humanas (e do próprio planeta), ainda que monstro ou dragão a por fogo pelas ventas, não pode ser deixado ser que o fustiguemos. Não podemos esquecer: este é o inimigo real. No governo Temer, ele é representado pelo todo poderoso fantasma ativo, Henrique Meirelles, o títere. Temer é apenas um ladrão de galinhas perto do saque que faz seu ministro em nome do rentismo e do pensamento neoliberal.

Como se vê, o ano promete. Duas batalhas concretas; uma guerra de guerrilha demorada e de vitória longínqua, mas necessária à sobrevivência da humanidade. Trumps, Bushes, Margareths, Hitlers: todos tentaram e tentam destruir a humanidade e sua diversidade. Não conseguiram. Não conseguirão.

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.