Nós, homens de negócios

Ensina uma autoridade federal que se deve sonegar tudo o que for possível, ao nos dar o exemplo:  “Eu sonego tudo que for possível”. É bem verdade que para aqueles que vivem de salários, que não são “homens de negócios”, a sonegação é quase impossível, mas há possibilidades de uma ou outra informação semiverdadeira para dar conta de cumprir o preceito exemplar do futuro presidente.

Mas os “homens de negócios” têm mais chances, entre outras até de apropriação indébita: recolhem as contribuições e impostos de seus empregados, mas esquecem de depositá-las para o fisco. Em geral fica por isso mesmo… e alguns anos depois, uma confissão de dívida e um prazo de uns 100 anos para pagar.

Mas “homem de negócio” mesmo, aquele que somente ganha dinheiro, quer dizer, “faz dinheiro” é aquele que não precisa se estabelecer com endereço comercial, registro no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas: nenhuma complicação. Somente fazer dinheiro. Não tem gastos de aluguel, não tem gastos com salários, não tem gastos com taxas e impostos. O telefone e a conta bancária são seus endereços naturais.

Melhor ainda é “o homem de negócios” que tem clientela fixa, que paga mensalmente sem qualquer incômodo: todos os meses, religiosamente, estes clientes recebem seus salários e imediatamente depositam na conta do “homem de negócios”.

Ser um homem de negócios desta ordem é o sonho de qualquer sujeito com espírito empreendedor. O que não sei é se os cursos de empreendedorismo ensinam a mágica de fazer dinheiro cativo, com clientela cativa, e ainda gozando da possibilidade de amigo que lhe empresta dinheiro para pagamento quando der, quando puder.

Seria sonho? Não, no Brasil, há um homem de negócios que tem todas estas vantagens. E a patuleia acredita e inveja… porque é bom acreditar no que acreditam autoridades como o Ministério Público Federal. Eles dão o exemplo de crença necessária no mundo que inicia este novo ciclo com Deus presente, como nos ensina o novo chanceler diplomata Araújo, ara, ujo!!!

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.