Que espetáculo é esta nigeriana! Já estou com todos os seus livros publicados no Brasil, até mesmo Para educar crianças feministas, e olha que sou gaúcho!!! Mas luto contra, sempre, no entanto não deixo de cair no que há lá no fundo. Notem este “até mesmo”…
Este volume é composto por 12 contos. E a gente lê cada um deles como quem escuta alguém contando uma história de um amigo, de uma amiga, de um parente: acontecimentos que poderiam ser reais ainda sem que os matizes de invenção da autora façam imaginar tudo o que conta como inverossímil. Ao contrário, tudo é possível, tudo acontece quando você passa a conviver com a colonização, com a invasão cultural, com a imigração forçada, com as condições de existência do imigrante que vai conviver com outra cultura e nela ocupa lugares com movimentos que devem ser invisíveis.
Os contos trazem também a cultura profunda dos grupos, particularmente os igbo. E tem uma característica muito interessante, quando a autora interrompe o presente e traz o futuro de sua personagem para depois retroceder e o leitor reencontrá-la onde a tinha deixado, num fio da meada cronológica. Outra caraterística constante dos contos a presença feminina: são as mulheres que observam, que percebem, que sentem, e é sobre elas que se narra.
A linguagem é simples, corre livre, sem rebusques “literários”, e por isso mesmo uma prosa profundamente literária. Também não há uma preocupação típica do gênero: uma espécie de colocação da cena e personagens, um clímax e um desfecho.
Resumir cada conto é quase um crime. Porque se perde o tom, se perde a naturalidade de se sentar e ouvir alguém contando uma história. De qualquer forma, como estes registros são mnemônicos, faço uma breve apresentação de cada conto.
Em A Cela Um conta-se a história de Nnamabia, o irmão da narradora. Era a família de um professor da universidade, no campus de Nsukka. O conto começa com um furto na casa do professor: o primeiro, feito pelo vizinho Osita; o segundo, feito pelo próprio filho Nnamabia… eram tempos de “surto de roubos” em Nsukka. O tempo passa, o roubo do filho não é comentado em casa, mas o irmão foi preso: ele participava dos “cultos” – grupos de jovens que lutavam entre si. Houve mortes e prisões. Nnamabia foi levado para a prisão de Enugu, cidade grande. Na cela, havia um chefe que recolhia todo o dinheiro e dividia as rações de alimentos. Nenhum preso poderia ter algo de seu sem entrega ao chefe. No entanto, os pais e a irmã o visitam, levam-lhe comida e subornam a guarda para que ele saísse da cela e viesse comer junto com a família. Houve a prisão de um idoso, e o ‘chefe da cela’ exigiu que ele desfilasse nu entre seus companheiros. Nnamabia se revoltou. Um comportamento inadmissível: foi transferido para a Cela Um… Mas acontece que a justiça decretou sua soltura, e como ele estava na “cela dos que vão morrer”, ele já havia sido levado para o lugar de execução quando os pais chegaram para buscá-lo. Chegaram a tempo: encontraram o filho com hematomas, mas ainda vivo… Aparentemente, a “mulher” estaria ausente, face a esse resumo. No entanto, ela é a narradora, é sob o ponto de vista da irmã que os acontecimentos são filtrados: é o modo feminino de ver e sentir que você acompanha a cada passo, a cada episódio, a cada revelação e a cada silêncio. E isto faz a diferença.
Réplica: Nkem, mulher de Obiora. O casal mora na Filadélfia: quando chegaram, Nkem estava grávida. No entanto, o marido mantém a casa na Nigéria, para onde sempre viaja e onde começa a ficar cada vez mais tempo, enquanto Nkem cuida dos filhos e da sua educação, já que o pai queria que os filhos fossem como os filhos de seus vizinhos norte-americanos. O conto começa com Nkem recebendo um telefone de uma amiga nigeriana, Ijemamaka, contando-lhe que seu marido tinha outra mulher na Nigéria. Todo o conto refaz a história da relação de Nkem, desde quando se conheceram. E termina quando Obiora retorna da Nigéria. E então vem o produto deste tempo de reflexão feminina:
No chuveiro, ao ensaboar as costas de Obiora, Nkem diz: “Nós temos que encontrar uma escola para Adanna e Okey em Lagos”. Não tinha planejado dizer isso, mas lhe parece ser a coisa certa, é o que ela sempre quis dizer.
Obiora se vira para encará-la. “O quê?”
“Vamos voltar para lá quando acabar o ano escolar. Vamos voltar a morar em Lagos. Vamos voltar.” Nkem fala devagar, para convencê-lo e para convencer a si mesma. Obiora continua a olhá-la e ela sabe que ele nunca a ouviu erguer a voz, nunca a ouviu tomar uma decisão. Nkem sente uma vaga dúvida, perguntando-se se foi isso que o atraiu antes de tudo, o fato de ela adiar-se tanto, de deixar que ele falasse pelos dois.
“Nós podemos passar as férias aqui, juntos”, diz Nkem, com ênfase na palavra nós.
“Mas … por quê?”, pergunta Obiora.
“Eu quero saber quando chega um empregado novo na minha casa”, diz ela. “E as crianças precisam de você.”
“Se é isso que você quer”, diz Obiora, após alguma hesitação. “Nós podemos conversar”.
Ela o vira de costas gentilmente e continua a ensaboá-lo. Não é preciso conversar sobre mais nada, Nkem sabe. Está decidido.
O tema de Uma experiência privada é o da luta étnica e religiosa… Por acaso, um católico ao estacionar o carro passa por cima de um exemplar do Corão que estava no acostamento. A reação dos homens que estavam por ali foi imediata: arrancaram-no da picape e cortaram sua cabeça com um golpe de machadinha. Depois correram para o mercado, e começou a violência. Chika, do povo igbo e católica, estava passando férias na casa da tia, uma alta funcionária e naquele momento estava com a irmã fazendo compras: ela comprava laranjas, a irmã tinha ido adiante para comprar amendoim. No corre-corre, uma mulher a leva para lugar seguro, uma velha loja abandonada. E a mulher, Nnedi, é husa e muçulmana. E claramente muito pobre. É feirante. Vende cebolas. Está posta a diferença social… Chika é estudante universitária, sua salvadora é uma feirante. Então o leitor acompanhará não só os resultados da violência, mas também as mazelas típicas de uma sociedade de desigualdade social. No entanto, fechadas em seu esconderijo por uma noite, as duas mulheres mostram que outra história seria possível.
Fantasmas remete à história de escravização de Ikenna Okoro, considerado morto por seu amigo James Nwoye. O reencontro de ambos é rápido e acontece quando James mais uma vez vai à tesouraria da Faculdade para ver se os proventos de sua aposentadoria tinham sido liberados (alguns dos aposentados não recebem há três anos). O Prof. James vive dos dólares que lhe manda o filho dos EEUU. O grande crime em que se envolveu Ikenna foi a luta pela independência de Biafra. A história que se conta aqui tem a ver precisamente com esta luta. Este é um dos únicos contos em que a mulher não é personagem principal.
O conto seguinte focaliza uma irrealizada relação homossexual. Em Na segunda-feira da semana passada temos uma babá, Kamara, que cuida do filho de uma pintora: Josh. Quem efetivamente comanda a vida cotidiana é o marido, Neil, pois a mulher Tracy estava trabalhando numa encomenda e encerrou-se no porão. O pai vive preocupado com a alimentação natural de seu filho, exigindo que Kamara faça pratos que o patrão descobre pesquisando em livros de receitas de alimentação e bebida naturais. Esta obsessão de Neil é motivo de algumas reflexões de Kamara e muito da tristeza de Josh, a quem a babá ensina a jogar fora sucos insuportáveis. Numa tarde, Tracy sai do porão e encontra Kamara. Esta se apaixona pela mulher do patrão desde que esta pergunta se ela já havia pousado para algum artista. Kamara passa a imaginar o tempo todo um encontro que jamais acontece. A narrativa se encerrará a visita de outra mulher, Mauren, a quem novamente Tracy olha fixamente e lhe pergunta se algum dia pouso para algum artista.
Jumping Monkey Hill tecnicamente é construído no diálogo entre uma narrativa que uma autora vai escrevendo e a narrativa do encontro de escritores africanos na Cidade do Cabo realizado no luxuoso resort que dá título ao conto. O workshop previa que durante a primeira semana todos discutiriam livremente e cada um teria a responsabilidade de apresentar, na segunda semana, um conto produzido neste período, para compor uma coletânea de contos de escritores africanos selecionados. A narradora é a escritora nigeriana Ujunwa. E conto que escreve é sobre a vida de Chioma, formada em Economia pela Universidade de Nsukka, que procura emprego e sempre sofre assédio sexual. Sendo contratada para trabalhar num banco para contatar clientes, na primeira visita acompanha uma colega mais experiente e percebe que a conquista de clientes para o banco passava por serviços sexuais que a “funcionária” deveria oferecer. Quando da leitura de seu conto, as críticas vieram fortes particularmente de um escritor queniano (homem!) para quem o final do conto era inverossímil porque a personagem não teria aberto mão do emprego, pois não lhe restava outra opção. Na narrativa, no entanto, Chioma se recusa a manter relação sexual com um possível cliente e sai de sua casa para pegar suas coisas no banco e abandonar o emprego. Para o organizador do workshop, “o conto inteiro não é plausível. Isso é literatura ideológica, não é uma história real sobre gente de verdade.” Então Ujunwa responde: na história de Chioma, somente não é verdade que foi para o banco com o jipe dos patrões, mas exigiu que o motorista a levasse para casa porque sabia que era a última vez que andaria nele. A história de Chioma aparece assim como a história de Ujunwa, que por sua vez é uma ecritora-personagem do conto. Genial.
No seu pescoço foca a imigração de africanos – nigerianos – para os EEUU. A técnica de escrita é muito interessante: a narradora trata a personagem como “você”, como se estivesse falando com ela enquanto conta sua história. Desde o início o leitor se depara com esta técnica:
Você pensava que todo mundo nos Estados Unidos tinha um carro e uma arma; seus tios, tias e primos pensavam o mesmo. Logo depois de você ganhar a loteria do visto americano, eles lhe disseram: daqui a um mês você vai ter um carro grande. Logo, uma casa grande. Mas não compre uma arma como aqueles americanos.
De fato, “você” vai direto para a casa do tio, que já vivia nos EEUU e que lhe ensinou como conseguir o emprego de operadora de caixa num posto de gasolina. “Você” se sentia bem lá, mas uma noite o tio invade seu minúsculo quarto forçando uma relação sexual. Você consegue fugir e encerrar-se no banheiro. Na manhã seguinte sai da casa, vai para Connecticut onde arruma o emprego de garçonete num bar em que o gerente é o nigeriano Juan. Um dos clientes, branco, começa a paquerar “você”. A paquera se torna namoro. Você conhece os pais dele. Vocês viviam bem. Então você escreveu uma carta para sua casa e na resposta ficou sabendo que seu pai havia falecido há cinco meses. A mãe dizia que lhe deram um bonito funeral com o dinheiro que ela havia mandado. E você chorou. E o conto termina em aberto:
Ele abraçou-a enquanto você chorava, fez carinho no seu cabelo e se ofereceu para pagar sua passagem, para ir com você ver sua família. Você disse que não, que precisava ir sozinha. Ele perguntou se você ia voltar, e você lembrou a ele que tinha um green card e que ia perde-lo se não voltasse em menos de um ano. Ele disse que você sabia o que ele queria dizer, você ia voltar, voltar mesmo?
Você virou de costas e não disse nada e, quando ele a levou de carro ao aeroporto, você abraçou-o apertado por um longo, longo momento, e depois soltou.
No A embaixada americana narra-se o suplício das pessoas em fila esperando obter um visto de entrada, uma saída possível. A personagem aqui é a esposa de um jornalista do The New Nigeria que tendo escrito um texto que a BBC de Londres repercutiu, com críticas à ditadura, precisou fugir do país. Combinaram marido e mulher que se encontrariam nos EEUU. Acontece que na mesma noite da fuga, invadem sua casa à noite em busca do marido, e como ela não sabia para onde ele tinha ido, um dos “milicianos” mata o pequeno filho, Ugonna, que chorava desesperadamente. É depois do enterro do filho que ela vai pedir asilo político na embaixada. É recebida por uma funcionária fria, que quer provas de que ela era perseguida política. Age de forma tipicamente burocrática. Esta conversa com a burocracia lhe fez ver que preferiria voltar para sua terra, para seus ancestrais. E encerra a entrevista, virando as costas para a mulher de cabelo castanho-avermelhado, e saindo da embaixada. No conto, o mais interessante são as observações enquanto as pessoas estão na fila, incluindo uma cena em que os soldados da ditadura batem em um homem indefeso.
O Tremor tem por personagens migrantes nigerianos nos EEUU. A tragédia da queda de um avião dá início à narrativa. Ukamaka vê as notícias pela internet e escuta baterem à porta de seu apartamento. É Chimedu, também nigeriano, quem chega e a convida para orar. Uma oração conduzida ao estilo neopentecostal, com as contínuas invocações “Senhor meu pai”, “Em nome de Jesus” e muito “Amém” sem que a reza chegue ao fim. Ukamaka sente um tremor durante a oração: daí o título do conto. Seu receio era que seu namorado (ou ex-namorado), Udenna, estivesse no voo, até que um telefonema afasta as suspeitas: Udenna tinha perdido o voo. Mas Chimedu não sai do apartamento e começam a conversar, inicialmente sobre o acidente, depois sobre Deus e sua vontade de matar alguns e salvar a outros
“Se, como você [Chimedu] diz, Deus foi responsável por ter cuidado de Udenna, então Ele foi responsável pelas pessoas que morreram, pois podia ter cuidado delas também. Isso quer dizer que Deus gosta mais de algumas pessoas do que de outras?”
Depois vem a história do namoro Udenna/Ukamaka. A certa altura, ele lhe dissera que o namoro estava estagnado e por isso deveria acabar. Então ela recorda tudo o que fizera para adaptar seu ritmo de vida ao ritmo exigido pelo namorado e seu trabalho. Depois vem a história de Chimedu, que também já tivera um namorado e o amor havia acabado. Para, no final, Ukamaka, que imaginava o vizinho estar, como ela, fazendo pós-graduação na Universidade, fica sabendo que ele está no apartamento de um amigo que viajara e que ele está clandestino nos EEUU, esperando a deportação.
Em Os casamenteiros conta-se a história de uma jovem nigeriana que se casa com um nigeriano que vive nos EEUU, num acerto entre as famílias de ambos. Lá, a noiva o conheceu como Ofodile Emeka Udenwa. Chegados de Lagos e instalados na novo apartamento, ela fica sabendo que não pode chama-lo mais de Ofodile, mas sim de Dave Bell, nome que o “novo marido” adotara nos EEUU. Então aparece outra pessoa, que quer estar integrada no novo país, que quer ter sucesso, que proíbe o uso da língua igbo, que a todo momento corrige a mulher, que passará a se referir a ele como “o novo marido”. Ela espera sua autorização para poder trabalhar, e como não recebe o cartão, pergunta-lhe o que está acontecendo e soube então que a ex-mulher do “novo marido” estava complicando porque quando ele se casou em Lagos ainda não havia sido encerrado o processo da separação. Ele explica que o casamento era de fachada, apenas para ele obter seu green card, mas ela não aceita que ele não tenha dito que fora casado antes. Tenta sair de casa, vai para o apartamento de uma amiga no prédio, e esta lhe faz ver que deveria continuar com o “novo marido” até ter seu cartão e recomeçar a vida. Ela volta e o “novo marido” lhe abre a porta de casa. Tudo isso, no entanto, os “casamenteiros” não contam…
Amanhã é tarde demais é uma história trágica. Aqui mais uma vez a técnica narrativa é do emprego de “você”, como se a narradora se dirigisse à sua personagem. São dois irmãos – você e Monso – que vem em férias para a Nigéria, para a casa da avó. Para lá também vai um primo Dozie, pelo qual “você” tem uma paixão juvenil. Acontece que sendo Monso o único neto que manterá o sobrenome de família, a avó não esconde sua preferência por este neto, e tudo é feito para ele, os outros dois ficando de lado. E “você” não suportará isso, armando para o irmão um acidente: desafia o irmão para ver quem sobre mais alto num abacateiro. Quando Monso está bem no alto, em galhos já menos fortes, ela grita que há uma cobra – echi eteka. Monso de desequilibra, cai e morre no acidente. Mais tarde “você” mentirá à mãe que Monso não havia morrido de imediato, mas que a avó em vez que buscar socorro ficou aos gritos em torno do menino, reclamando que ele não daria continuidade ao nome. 18 anos depois, com a morte da avó, “você” retorna e encontra o primo Dozie, e pela primeira vez este lhe fala do acidente que presenciou e que sabia desde sempre que o desafio era uma armadilha de “você” para se ver livre do irmão preferido pela avó e que fazia dela uma “preterida” na família.
A historiadora obstinada se inicia com um casamento: Nwamgba conheceu Obierika e por ele se apaixonou. Ambos pertenciam a clãs diferentes, e a família de Obierika teria uma maldição: todas as mulheres perdiam seus filhos durante a gravidez, em constantes abortos. No entanto, Nwamgba diz aos pais que quer casar com ele assim mesmo, e que se a obrigarem a se casar com outro homem, ela sempre fugirá da casa do marido. Assim, o casamento se realiza e como predizia a maldição, ela perde sucessivamente três vezes, com abortos naturais. Então ela e Obierika consultam o oráculo e depois disso ela consegue ter um filho, Anikwenwa. Como o marido morre, dois de seus primos Okafo e Okoye buscam na casa as honrarias de Obierka e lhe roubam grande parte de suas terras. Como os colonizadores estavam criando tribunais nos quais se resolviam as questões de terra, notícia que lhe traz a amiga Ayaju dizendo que no entanto somente vencia no tribunal quem falasse a língua dos brancos. Assim, decide a mãe colocar o filho Anikwenwa na missão para aprender inglês. Acontece que ele também aprende a religião dos brancos, muda de nome e se torna catequista… Começa então uma narrativa agora da segunda geração, pois o filho se casa, mas trata a mulher de forma absolutamente colonialista. A nora, Mgbeke, visitava a sogra muitas vezes aos prantos por não saber como se conduzir diante do fanatismo religioso do marido, e a obrigação de falar em inglês, de cozinhar como os brancos, de rezar como os brancos, de crer como os brancos. Ainda assim, o casal deu à Nwamgba dois netos, um menino e uma menina. Será esta menina que resistirá ao pai e que estudando história, percebe que esta somente é contada sob o ponto de vista do branco. Assim, contrariando o destino que lhe traçara a família, ela se tornará uma grande historiadora, falando dos povos nigerianos e denunciando a colonização, escrevendo um livro cujo título é “A pacificação com balas: uma história recuperada do sul da Nigéria.
…
Como se pode notar, os enredos destes 12 contos trazem histórias de nigerianos, de suas vidas nos clãs, da interferência na vida dos povos pela colonização branca, da miséria em que vivem os negros, do sonho do eldorado, os EEUU, da miséria e logro que é a vida efetiva do imigrante neste eldorado, da contraposição entre as religiões tradicionais e o cristianismo (católico ou evangélico). Vidas tristes, vidas de luta, vidas de resistências, como a de Grace (a neta historiadora que a avó chamou sempre de Afamefuna, nome que ela adotará no final do conto). Como disse antes, os resumos são crimes porque perdem toda a construção literária, que aqui se faz pela simplicidade do estilo, pelo narrar que parece escorrer por entre os dedos da narradora e que obriga uma escuta encantada e ao mesmo tempo consciente do que significa ser africano num mundo que reduziu a África a território de posse de estrangeiros que estrangularam culturas e vidas.
Referência. Chimamanda Ngozi Adichie. No seu pescoço. Tradução de Júlia Romeu. São Paulo : Cia. das Letras, 2017.
João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.
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