Ninguém é golpista

De retorno, ontem assisti ao Jornal Nacional da Globo. Depois de muitos meses, achei que dadas as notícias a que tive acesso longe daqui, valia a pena este esforço intelectual. E fiquei estupefato. Parece que o Bonner recebeu um novo treinamento e já não age mais como pit-bull… E até o Eduardo Cunha diz que não quer ser chamado de golpista… D repente, o PSDB ficará sozinho em sua campanha? Quer dizer, sozinho jamais, porque sempre tem o seu anexo PPS.

A pergunta que não cala: que aconteceu? Trata-se de saber o que corre pelos bastidores… Nenhum dos três caminhos do golpe, já anunciados, dariam certo? Até o TCU está mais arredondado…  Ou se descobriu que os golpistas não têm qualquer projeto para o país e, portanto, seria trocar o que não está bom por uma aventura econômica que levaria ao estado de mendicância nacional todos os setores, até o comércio de luxo? Capital e política jamais se separam, e os serventuários do capital fazem a política que este determina… Logo, parece haver uma debandada nas hostes golpistas: junto com a Globo e setores do PMDB poderão vir outros… a conferir.

Frustrar o golpe, com acordos, sem uma mudança no rumo das prioridades nacionais, mantendo-se um governo sem avançar posições, é cozinhar o futuro em banho-maria! Para além de evitar o golpe, é preciso mostrar força num projeto de desenvolvimento com maior equidade social. Não dá para manter no governo, em cargos de confiança, pessoas que defendem, por exemplo, a entrega do pré-sal às multinacionais. Não dá para manter no governo um acadêmico diletante em férias como o Mangabeira Unger, de triste memória não só pelo documento Pátria Educadora, mas também pelas palestras por aí, contra a política externa brasileira, clamando por um alinhamento aos EEUU (ele é cidadão norte-americano? não teria renunciado à cidadania brasileira?), fugindo das soluções que representam os BRiCS. De pouco adianta permanecer no governo com as mãos amarradas. Não foi para isso e nem foi com este discurso que a presidenta foi eleita. 

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.