Não sei se conseguiremos ganhar, mas precisamos resistir (de Inês Barbosa)

Hoje acordei querendo chorar, e chorei. Chorei de tristeza pela necessária ruptura com um grupo familiar, pela angústia diante do não entendimento do que está em jogo no Brasil hoje.

Chorei e me arrumei, quase por obrigação. Não tive coragem de me reportar a ninguém. Não posso ser portadora de desânimo, não poderia levar desânimo a ninguém. Calei.

Um telefonema inquieto de Bruno, meu filho mais velho, me permitiu compartilhar minha angústia. Ele tem maturidade e sabedoria para ouvir e ponderar, e não se abateria.

Mas saí com dificuldade, me arrastei no engarrafamento sem nem mesmo buscar escapar dele. Cheguei a uma seção eleitoral cheia e confusa, não sem antes receber uma bela injeção de ânimo no encontro com o querido André Lázaro, que me lembrou com veemência que somos de luta, que não caberia esmorecer hoje. Que a luta precisa de todxs nós. Sorri, ouvi, mas não assumi.

A pesquisa de boca de urna me fez ter a convicção de que tínhamos perdido. Felizmente errei. Como aprendi com meu disquinho da Chapeuzinho Vermelho que ouvia na infância: “não chore, porém, criança, pois nem tudo está perdido”! E uma nova energia, estranhamente, me chegou.

Ver o quanto o fascismo avançou me acordou para a luta. Ver a necessidade de investir em direitistas históricos contra os quais sempre me insurgi, como Eduardo Paes, ver a quase vitória do fascismo no cenário presidencial, ver senadores, deputados em profusão e outras barbáries ganhando mais e mais espaço me convenceu de que só há uma saída, e ela está na ação.

Não sei se conseguiremos ganhar, mas precisamos resistir.

Mostrar que existimos e que dizemos não ao fascismo, mostrar que somos muitos, que temos princípios, ideias e projetos e nada disso se apaga com uma eleição. Podem vencer essa batalha, mas não roubarão nossos sonhos, nossas vidas, nossa capacidade de optar pelo amor, pela solidariedade, pela democracia, pela justiça!!!

Permaneceremos intransigentes na defesa desses valores, agora e sempre!!

Partiu 2º turno, Haddad e Manu contra o fascismo, “pela democracia, pela soberania nacional e popular, indissociáveis!” Pelo ativismo como direito, como prática e como meta de participação ampliada!!!

Partiu me juntar aos eleitores de Eduardo Paes para evitar o fascismo no Rio, mesmo sabendo que a ele me oporei desde o dia 2 de janeiro, caso ele tome posse no dia 1º.

Partiu pra luta, porque como aprendemos com Marighella: a única luta que se perde é a que se abandona.

Não vou desistir. Não vamos desistir. Nossa força está no que compartilhamos e vivenciamos juntos. Vamos fazê-la crescer estando sempre e cada vez mais juntos. Somos multidão, pluralidade ativa e complementar. Tamojunto!!!

“Nossa arma é o argumento”. Usemos e abusemos dele.

 

Inês Barbosa de Oliveira

Rio de Janeiro, 7/10/2018

João Wanderley Geraldi é reconhecido pesquisador da linguística brasileira e formou gerações de professores em nosso país. Há já alguns anos iniciou esta carreira de cronista-blogueiro e foi juntando mais leitores e colaboradores. O nome de seu blog vem de sua obra mais importante, Portos de Passagem, um verdadeiro marco em nossa Educação, ao lado de O texto na sala de aula, A aula como acontecimento, entre outros. Como pesquisador, é um dos mais reconhecidos intérpretes e divulgadores da Obra de Mikhail Bakhtin no Brasil, tendo publicado inúmeros livros e artigos sobre a teoria do autor russo.